Ministro de Bolsonaro diz: apavorou esquerda ao falar de nazismo
Discípulo do filósofo Olavo de Carvalho, guru de Bolsonaro, o ministro Ernesto Araújo, das Relações Exteriores voltou a afirmar neste sábado em seu blog: o nazismo é de “esquerda”.
Nesta mesma mesma semana, ele afirmou que não teve golpe militar no Brasil. Nem ditadura.
“A esquerda fica apavorada cada vez que ressurge o debate sobre a possibilidade de classificar o nazismo como movimento de esquerda”
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“Dá a impressão de que existe aí um perigoso segredo de família, cuidadosamente guardado. Eu opinei que o nazismo é de esquerda, e imediatamente a esquerda (junto com o mainstream por ela dominado sem o saber) chegou correndo com seus extintores de incêndio, ou melhor, seus extintores de verdade, tentando apagar essa ideia”, ressaltou.
“O nazismo era anti-capitalista, anti-religioso, coletivista, contrário à liberdade individual, promovia a censura e o controle do pensamento pela propaganda e lavagem cerebral, era contrário às estruturas tradicionais da sociedade. Tudo isso o caracteriza como um movimento de esquerda”.
“Portanto, o nazismo era anti-liberal e anti-conservador. A esquerda também é anti-liberal e anti-conservadora”, escreveu.
Reportagem da TV Globo no Jornal Nacional detonou a visão do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, sobre o nazismo.
Ouviu especialistas e historiadores. Lembrou uma afirmação do embaixador da Alemanha sobre essa visão do ministro. “Besteira”.
Em entrevista ao jornal “O Globo” em setembro, o embaixador da Alemanha no Brasil, Georg Witschel, afirmou que “é uma besteira argumentar que o fascismo e o nazismo são movimentos da esquerda”.
“Isso não é fundamentado, é um erro, é simplesmente uma besteira”, acrescentou.
E concluiu: “O Estado alemão tem a missão de informar sobre o nazismo, para nunca mais deixar nada parecido acontecer na Alemanha ou no mundo”.
Peter Carrier é pesquisador na Alemanha e autor de um relatório da Unesco sobre o holocausto. Ele disse ao Jornal Nacional que é historicamente incorreto associar o nazismo como um movimento de esquerda. E que na própria fundação do movimento nazista, nos anos 1920, eles já se declaravam contra o marxismo e contra a União Soviética.
Segundo o pesquisador, a fala do ministro contribui para falsificar a história.
Para Ruth Bem-Ghiat, historiadora especializada em fascismo e autoritarismo pela universidade NYU, de Nova York (EUA), o ministro tem que reler os livros de história. E que faz parte de determinadas correntes políticas adotar uma versão que seja mais adequada aos seus interesses e que dizer que esses movimentos são de esquerda é simplesmente um “absurdo”.
Para Antonio Barbosa, historiador da Universidade de Brasília (UnB), falar que o nazismo é um fenômeno de esquerda é uma “fraude”.
“Uma fraude intelectual e uma releitura completamente equivocada da própria história. É como se fosse negar o fato histórico que aconteceu na Alemanha nos anos 1930, nos anos 1940. Esse é o primeiro ponto. O segundo é que o nazismo se justifica como a oposição mais vigorosa ao socialismo, à esquerda, ao comunismo. […] No caso da política externa, isso é extremamente perigoso porque mostra ao mundo uma visão sectária, radicalmente sectária no brasil, o que não é bom para o país”, afirmou.