Conheça a arte política de León Ferrari, crítico da Igreja e do governo militar

Morre em Buenos Aires, aos 92 anos de idade, o artista plástico mais importante da Argentina

A carreira de León Ferrari – artista plástico argentino nascido em 1920, em Buenos Aires – teve início, na Itália, na década de 1950, período em que atuou como escultor. Em 1954, recém chegado da Europa, deu continuidade, em sua cidade natal, ao trabalho com as esculturas abstratas.

“Civilização Ocidental e Cristã” foi criada para o salão do Instituto Torcuato Di Tella (fim de 1964).

Com a amplificação da repercussão da violência na guerra do Vietnã, sua arte adquiriu um caráter mais político. Foi quando produziu obras como “Civilização Ocidental e Cristã” (Jesus crucificado no avião) para o salão do Instituto Torcuato Di Tella (fim de 1964). A obra não foi exposta pelo conteúdo “ofensivo” à igreja católica, mas ficou guardada para ser exibida anos depois.

No final dos anos 60, Léon Ferrari participou de um coletivo de artistas chamado “Tucumán Arde”, um dos grupos precursores da arte conceitual latino-americana. Este grupo via o “fazer artístico” como um processo que deveria ser realizado longe do circuito de exibição e mostrado depois em forma de documentos e registros, dentro e fora dos museus e galerias.

Nessa época, na Argentina, existia uma tradição muito forte da arte produzida pelos coletivos. O “Tucumán Arde” fez duas mostras dedicadas à Che Guevara, uma em 67 e outra em 68. Eles também idealizaram a chamada “1ª Bienal de Arte de Vanguarda” que foi censurada. A ideia era usar “a arte para fazer política”.

Para fugir da repressão da ditadura militar argentina, que se intensificara em 1976, León se auto-exilou em São Paulo, onde retomou suas esculturas abstratas em aço. Ele também começou a explorar diferentes suportes desde o xerox até o videotexto, arte postal, microfichas, livros de artista, heliografia, letra-set e instalações sonoras.

Clara Caldeira

Por Clara Caldeira

Jornalista, escritora e pesquisadora, especialista em gênero e meio ambiente. Apaixonada por literatura e pelas artes oraculares, está sempre em busca de formas de conectar seus estudos e suas paixões.