Ajuda de Bolsonaro a infratores no trânsito revolta especialistas

11/04/2019 06:58 / Atualizado em 29/05/2020 19:09

A Justiça já barrou a suspensão dos radares em estradas federais determinadas por Jair Bolsonaro.

Agora, mais uma frente de batalha contra um projeto de Bolsonaro: dobrar a margem de pontos permitidos para infrações de trânsito, além de ampliar a validade da Carteira Nacional de Habilitação.

Essa disposição de Bolsonaro está provocando revolta de especialistas por um motivo simples: vai estimular mais acidentes.

O Brasil tem cerca 40 mil mortes em acidentes automobilísticos

Informações do O Globo:

Somente no ano passado, em São Paulo, mais de 540 mil motoristas excederam os 20 pontos na carteira, o atual limite para a suspensão da CNH. No Rio, segundo o Detran informou em 2018, um em cada quatro condutores já haviam estourado o máximo de pontos no período de um ano.

Professor de psicologia do trânsito, Hartmut Günther avalia que as mudanças podem ser um sinal de liberalidade excessiva:

— É lastimável, um sinal para a população: ‘olha, agora vocês podem fazer o que quiser’. O que está em jogo é a segurança de todos. Nos países desenvolvidos, há políticas de baixar índices de acidentes de trânsito. No Brasil, estamos na contramão. Ao afrouxar a pontuação o governo está sinalizando que não está interessado em fazer nada.

Desde sua atuação como deputado federal, e também na campanha eleitoral do ano passado, o presidente Jair Bolsonaro faz críticas contra o que considera ser uma “indústria das multas” gerada pela legislação de trânsito e a atuação dos órgãos de fiscalização.

Somente no ano de 2018, a Polícia Rodoviária Federal registrou um total de 69.114 acidentes nas rodovias federais do país, que resultaram num total de 58.825 feridos e 5.259 mortos.

As mortes no trânsito geram um custo aos cofres públicos de pelo menos R$ 50 bilhões ao ano, segundo dados do Observatório Nacional de Segurança Viária. Para Maria Alice Prudêncio Jacques, especialista em trânsito e professora aposentada da Universidade de Brasília (UnB) o comportamento dos condutores de veículos é um elemento determinante para se chegar a esses números alarmantes.

— O condutor não está bem orientado. Quando nosso trânsito tiver mais seguro, pode-se pensar em alterar alguma coisa. Por enquanto não justificaria haver uma flexibilização no rigor do trânsito. Os órgãos gestores precisam acompanhar o desempenho dos condutores para evitar que as pessoas se sintam liberadas — disse a especialista.

A proposta também não foi bem vista por entidades da sociedade civil. Coordenador-geral da Ong Rodas da Paz, Bruno Leite avalia que o motorista que descumpre a lei com frequência deveria voltar a estudar.

— Se você é um motorista que está descumprindo a lei com certa frequência, você precisa voltar a estudar as regras de trânsito, rever seus conceitos e não deixar de ser punido.