Dimenstein: aliança secreta de Bolsonaro com Renan não me espanta
Para quem acredita em discursos de campanha a aproximação de bastidores Jair Bolsonaro em direção a Renan Calheiros soa como um estelionato.
Uma traição, até.
Afinal, Renan Calheiros, ex-aliado de Lula, processado por corrupção, simbolizaria tudo contra o qual Bolsonaro praguejou durante a campanha.
Bolsonaro se apresentou como o inimigo do “sistema”. Renan é o próprio sistema.
Só na cabeça de ingênuos se poderia supor que um presidente conseguiria governar sem fazer acertos com o Congresso.
Bolsonaro sabe que, sem apoio de um presidente do Senado, seu governo terá ainda mais dificuldade de aprovar as reformas essenciais em sua gestão – a da previdência, por exemplo.
Todos sabem o que aconteceu quando Eduardo Cunha resolveu infernizar a vida de Dilma Rousseff. Ele foi para a cadeia. Mas ela sofreu impeachment.
A verdade que é essa história de ser anti-sistema é uma bobagem para enganar eleitor.
Bolsonaro esteve no Congresso por 30 anos, foi de vários partidos do sistema, votou com o sistema.
Ele sempre votou com o atraso em questões corporativas – e, muitas vezes, com o PT.
Dizem ser incoerente e mentirosa a transformação do estatizante Renan no liberal Renan.
Mas Bolsonaro é diferente? Sempre votou contra as reformas da previdência e a favor da estatização.
Ninguém bem informado acreditava que Bolsonaro era um paladino da moralidade. O que ficou claro com as conexões em torno do gabinete de seu filho Flávio que envolvem toda a família e chegam até as milícias.
O que está em jogo é a sobrevivência do governo. Não por acaso Paulo Guedes, ministro da Economia, estava apoiando pelos bastidores a candidatura de Renan.
Guedes não daria esse apoio sem avisar o presidente.
Se Renan for eleito, Bolsonaro dependerá muito mais dele do que Renan de Bolsonaro.
A realidade da vida política é maior do que os palanques. E das ilusões.
Atacavam duramente Rodrigo Maia. Diziam que ele era pior do que o PT.
Mas Bolsonaro, sem alternativa, caiu no seus braços.