Entenda a crise que está detonando o Governo Bolsonaro
O Canal Meio selecinou artigos e matérias que explicam a crise do Governo Bolsonaro
Foi um fim de semana de pancadaria política.
No centro de uma crise que põe em risco a reforma da Previdência está o bate-boca dos presidentes da República e da Câmara.
Aproveitando-se da prisão de Michel Temer, ainda no Chile, Bolsonaro havia sugerido que sua prisão estava nos acordos políticos em nome da governabilidade. “Ele não pode terceirizar a articulação”, retrucou Rodrigo Maia, a respeito de quem tem a obrigação de convencer os parlamentares a votar no projeto de reforma que é do Executivo. “Transfere para o presidente da Câmara e do Senado uma responsabilidade que é dele. Fica transferindo e criticando — ‘a velha política está me pressionando’.
Então precisa assumir essa articulação porque precisa dizer o que é a nova política.” Antes de embarcar de volta para o Brasil, no sábado, Bolsonaro optou por escalar o conflito. “A bola está com ele, não está comigo. Já fiz minha parte, já entreguei.” E, aí, partiu para cima. “O que é articulação? O que está faltando eu fazer? Pergunto a vocês: o que foi feito no passado? Não seguirei o mesmo destino de ex-presidentes. Alguns não estão acostumados a fazer a nova política. Olha onde estão os ex-presidentes. Não quero ir para lá.”
As peças se movem no tabuleiro.
No sábado, Maia foi a São Paulo buscar o apoio do governador João Doria. Ao sair do almoço, comentou com jornalistas. “Não uso as redes sociais para agredir ninguém. Vivemos numa democracia e, nela, o Executivo não está acima dos outros poderes.” Doria também falou. “É um momento de diálogo, de serenidade. Apoiamos e confiamos plenamente na conduta, trabalho e relevância do deputado como presidente da Câmara.” (Globo)
Pois ontem o líder do governo na Câmara, major Vitor Hugo, foi receber instruções de Bolsonaro. “Nosso presidente está certo e convicto de suas atitudes”, escreveu via WhatsApp para a bancada do PSL. “Todos que nos elegemos temos a possibilidade de escolher de que lado estar.” É nós contra eles. (Folha)
Vitor Hugo também enviou para a bancada uma captura de tela de reportagem de novembro de 2017: ‘Para aprovar mudanças na Previdência, Temer autoriza Maia a negociar cargos’, dizia o título. A imagem rapidamente começou a circular nas redes bolsonaristas, reforçando a acusação nunca posta de que negociação no Congresso e corrupção são equivalentes. (Globo)
Já o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir, começou a reclamar que os deputados arcam com o desgaste de defender o governo e não recebem nada em troca. (Folha)
A briga já teve consequência. Maia tirou o pacote anticrime de Sérgio Moro da agenda na Câmara. Puxou, para após a reforma da Previdência, a reforma Tributária. Considera mais importante.
Nem tudo muda. Maia vai seguir com a reforma da Previdência e blindar a proposta, que pretende emendar, informa Andréia Sadi.
Pois é… No Congresso, há quem considere que o modelo presidencialista se esgotou. O debate sobre mudar o regime para parlamentarismo, a partir de 2022, se iniciou, informa o Painel. (Folha)
Bruno Boghossian:
“Jair Bolsonaro igualou uma façanha quando se elegeu sem fazer alianças com grandes partidos. Ao tomar posse, concretizou um lance audacioso ao montar um governo sem negociar ministérios em troca de apoio. Desde então, passa os dias admirando os dois títulos pendurados na parede. Chega à reta final do terceiro mês sem apresentar um diagrama do que será erguido no lugar das relações partidárias que prometeu derrubar. Na última semana, obteve a proeza de aprofundar ainda mais seu isolamento. O desprezo do clã Bolsonaro pela tal velha política se traduziu em hostilidade. Conseguiu incomodar o DEM, o único partido que fazia esforços para dar sustentação ao governo, com o comando das duas casas do Congresso. O presidente aposta numa filosofia da terra arrasada. No jantar que teve com Olavo de Carvalho, Bolsonaro disse que precisa ‘desconstruir muita coisa para depois começar a fazer’. Pelo visto, o dinheiro da obra pode acabar já na fase de demolição.” (Folha)
Fernando Henrique:
“Paradoxo brasileiro: os partidos são fracos, o Congresso é forte. Presidente que não entende isso não governa e pode cair; maltratar quem preside a Câmara é caminho para o desastre. Precisamos de bom senso, reformas, emprego e decência. Presidente do país deve moderar não atiçar.”
Enquanto Bolsonaro e Maia batiam boca, o aluno número um de Olavo de Carvalho no governo, Filipe Martins, ia ao Twitter. “Há uma flagrante tentativa de isolar a ala anti-establishment do governo, lançando sobre ela uma série de adjetivações maliciosas” escreveu numa série de tuítes. “Fazem isso por saber que as principais propostas do governo representam desafios frontais ao poder estabelecido, às oligarquias dominantes, ao sistema de privilégios.” Para Martins, o que enxerga como ataque ao grupo olavista serve para criar um racha no governo, convencendo as equipes econômica e do Ministério da Justiça que só uma aliança tradicional permitiria o trâmite de projetos no Congresso. Para Martins, é preciso convocar manifestações. “Essa situação revela a urgência de uma coordenação efetiva entre as diferentes alas do governo para trazer o apoio popular para dentro da equação. É necessário mostra que o povo manda no país.”
Tanto Martins quanto Olavo já deram palestras dizendo acreditar que há uma revolução em curso, no Brasil. Sua tese é de que o Estado foi tomado pelo ‘tucano-petismo’ e as manifestações desde 2013, passando principalmente pela greve dos caminhoneiros, são uma insurgência contra esta estrutura.
Rodrigo Maia respondeu:
. “Uma pessoa que afronta a democracia nas redes sociais, você me desculpa, ou é autoritário, ou tem algum problema”, afirmou. “É por isso que o Twitter é tão importante para eles. Essa disputa do mal contra o bem é o que alimenta a relação deles com parte da sociedade. Só que agora eles venceram as eleições. Num país democrático, não é essa ruptura proposta que vai resolver o problema.” (Estadão)
Maia não está sozinho.
Em entrevista à Rádio Gaúcha, na sexta, o vice Hamilton Mourão já havia se queixado. “Olavo de Carvalho atingiu um limite em ofensa pessoal”, disse. “Você pode rebater ideias com argumentos convincentes, mas as ofensas mostram que a pessoa não tem argumento.”
Em entrevista a Thais Bilenki, na Folha de hoje, o secretário de Governo general Carlos Alberto dos Santos Cruz parte para cima. “Nunca me interessei pelas ideias desse sr. Olavo de Carvalho”, afirmou. “Por suas últimas colocações, com linguajar chulo, com palavrões, inconsequente, o desequilíbrio fica evidente.”