Valorização territorial: alunos criam dicionário de gírias

31/01/2018 10:16

Lorena Bárbara Santos Costa, licenciada em pedagogia pela UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto) e professora concursada da Prefeitura Municipal de Salvador e Lauro de Freitas, escreveu sobre sua experiência para o site Porvir: em suas aulas, ela incentiva e cria atividades que fazem os alunos valorizarem seus bairros. Neste caso, periferias e favelas de Salvador.

Entre várias atividades, os alunos criaram um dicionário de gírias urbanas e brincadeiras da favela. A ideia era fazer com que os jovens pudessem compreender e valorizar sua cultura e o espaço em que vivem.

Ela introduziu a leitura de poemas do Sergio Vaz, poeta morador da periferia de São Paulo, para fazer uma relação com os temas estudados em classe. Lorena também mostrou projetos que valorizam a produção cultural com pessoas da periferia. Entre eles está o grupo Sarau da Onça, da periferia de Salvador, e a Universidade das Quebradas, no Rio de Janeiro.

“Outra atividade muito significativa que realizamos foi a construção do “Dicionário Interativo das Gírias Urbanas”. Nessa atividade, fizemos uma pesquisa sobre as gírias faladas nas comunidades e seus respectivos significados. Na atividade “Formas de Brincar na Favela”, os alunos realizaram pesquisas e debates sobre as diversas formas de brincar na favela e os direitos das crianças e dos adolescentes. Produzimos um livro com os nomes e o passo a passo das brincadeiras”, explicou a professora.

Na imagem, um trecho da música do grupo baiano “Parangolé”.
Na imagem, um trecho da música do grupo baiano “Parangolé”.

Como muitas brincadeiras na favela são improvisadas com materiais acessíveis, eles resolveram reconstruir no espaço escolar as diferentes maneiras de brincar e montaram, com sucata, brinquedos e brincadeiras, como andar no pé-de-lata, empinar pipas, futebol com bola de meia, amarelinha, pega-pega, vai e vem com garrafa pet, peteca de jornal, etc.

“A forma de brincar pelas crianças da favela também denota a construção da cultura. É através da forma de brincar que contextualizam e assemelham as ações e regras sociais e, em especial, as do local em que estão inseridas. O espaço da rua, os becos e as quebradas geralmente são os lugares em que a criança da favela tem disponível para experimentar as normas que estão submetidas e, assim, a partir do jogo simbólico, construir e reconstruir regras para exercer seu papel de cidadão”, escreveu.

O hip hop também já foi um dos focos de estudo. Lorena analisou diversas letras de rap com seus alunos e provocou para que identificassem a relação que cada uma delas tem com o dia a dia em que vivem.

“Trouxemos para a nossa escola como convidados um MC, um grafiteiro e um DJ. Os alunos tiveram a oportunidade de realizar uma entrevista para conhecer melhor a cultura hip hop. O dia da entrevista sem dúvida merece destaque, pois os convidados nos presentearam com várias lições de vida. Falaram das dificuldades de nascer, crescer e viver na favela e do preconceito enfrentado no dia a dia. Depois das entrevistas, os convidados realizaram um grande show para toda a comunidade escolar”.

Segundo Lorena, o resultado de todo esse trabalho foi muito positivo. E para finalizar, ela sugeriu que construíssem uma exposição de maquetes, feitas com sucata, dos lugares em que moravam. “O resultado foi maravilhoso”, afirmou.

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