Mãe conta o que aprendeu com os índios sobre ‘birra’ e educação
Para enriquecer e transformar a complexa tarefa de educar uma criança, nada melhor do que se deixar confrontar com experiências distintas. Essa é a escolha de vida da antropóloga e mãe Camila Gauditano de Cerqueira, de 37 anos. Consultora em educação do ISA (Instituto Socioambiental), ela visitou o Parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso, para conhecer os modos de viver e educar de três etnias da região: os Kisêdjê, Ikpeng e Yudja. Quem conta essa história é a BBC Brasil, em reportagem assinada pela repórter Mônica Vasconcelos, e publicada neste mês de setembro.
Mãe de Martim, de três anos, Camila aprendeu com os povos indígenas do Xingu lições transformadoras sobre o modo de perceber uma criança e lidar com suas demandas físicas e emocionais.
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Dentre as experiências mais marcantes, a antropóloga destaca a hora do banho, em que se evidencia a relação natural dos pequenos indígenas com a água e o meio ambiente, o convívo familiar, o conhecimento transmitido entre gerações e de uma criança para outra e, principalmente, a relação dos adultos com o risco, algo que é muito naturalizado entre os indígenas.
“Crianças menores ficam na beira; as maiores, mais ao fundo; outros mergulham. É uma experiência do coletivo, das brincadeiras. A criança pequena observa o que é possível fazer e realizar nesse lugar, de acordo com suas capacidades, em diferentes fases.”Uma coisa é a gente ter contato esporadicamente (com o rio). Outra coisa é o contato diário, duas, três vezes por dia. Você vai se apropriar daqueles desafios, daquele ambiente. Há pouco espaço para perigo”, contou ela em entrevista à BBC.
Outro ponto que se sobressaiu durante a experiência foi a relação dos pais e mães indígenas com as reações emocionais da criança, a chamada “birra” – clique aqui para saber como a Neurociência avalia este comportamento infantil. Avaliando o contexto das cenas que presenciou, a antropóloga conta que a resposta dos adultos naquele ambiente é bastante diferente do que se observa na cidade. Por lá, prevalecem a capacidade e autonomia da criança, e a escolha é por não supervalorizar a birra no momento em que ela acontece, contornando a situação da forma mais natural possível.
“Não sei por que motivo, uma criança começou a chorar muito. Os pais estavam saindo do rio, talvez ele quisesse ficar mais tempo na água… Os pais simplesmente saíram andando. A criança foi atrás, chorando. “Não tem essa bajulação, de ficar em cima, ‘o que foi, o que aconteceu? Se você parar de chorar, te dou isso…’ Tomaram a atitude de não alimentar a birra. Essa é uma observação muito pessoal, mas acho que o princípio é, quanto menos bola se dá para a birra, mais a criança tem condições de resolver suas próprias frustrações.”
A amamentação é outro aspecto conduzido de forma diversa nas aldeias visitadas. As mulheres indígenas do Xingu têm disponibilidade integral para estar com os bebês, porém, ainda assim, a rede de apoio é acionada nos primeiros meses de vida da criança.
“Enquanto são bebês, a mãe não sai para trabalhar na roça. A família faz esse trabalho por ela”, conta Camila. “Às vezes, até o marido tem restrições para ir à roça quando tem bebê pequeno”.
Em decorrência desse contexto que favorece o cuidado e o tempo de cada etapa do desenvolvimento da criança e dos vínculos afetivos, processos como desmame e amamentação prolongada, por exemplo, são bastante naturais para os povos indígenas. “O ponto de partida é a integração de um povo indígena com o ambiente em que vive”, diz ela no relato, alertando para a importância de integrarmos nossas crianças ao ambiente natural delas, seja ele qual for: “O quintal de casa, a terra, as plantas, os parques, as praças, a rua, a comunidade”.
Essas e outras referências trazidas pela experiência da antropóloga reforçam como a cultura, o meio social e o sistema influenciam na tomada de postura dos adultos e da sociedade em relação a processos naturais da vida humana. Para ler a reportagem completa, clique aqui.
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