Estudante ‘meme do Enem’ estuda direito e ajuda outros atrasados
Minutos antes de cravar 13h, horário de fechamento dos portões nos locais de prova do Enem, a estudante Hevellyn Nicolle da Silva Pedroza, de 22 anos, corria e gritava para ajudar os candidatos que chegavam em cima da hora para realizar a primeira etapa do exame, no último domingo, 5.
Hevellyn já esteve do outro lado, quando virou meme por chegar um minuto atrasada no campus da Uninove, localizado na Barra Funda, zona oeste de São Paulo, em 2015. Neste ano, porém, ela foi voluntária em uma ação do Quero Bolsa que auxiliava os candidatos na localização correta dos prédios e salas (leia mais aqui).
“Ajudar os estudantes a chegarem ao local de prova sem atraso foi uma experiência única para mim. Gostaria muito de ter recebido apoio quando estive em dificuldade para localizar o prédio onde eu deveria ter prestado o Enem”, disse ela ao Catraca Livre.
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Os memes dela no portão ou desmaiada ainda rolam pela internet. E não, não tem graça. “Aquele dia foi desesperador. Eu fiquei sem direção, porque o local de prova é muito grande. São quatro prédios imensos que não estão interligados entre si. Como não encontrei ajuda, levei muito tempo para chegar ao prédio certo, por isso acabei me atrasando”, explicou.
“Se não bastasse a frustração, vieram os memes que me atormentam até hoje. Ao participar de processos seletivos, sempre tenho o receio de ser reconhecida e acabar rotulada como a ‘atrasada do Enem’. Mesmo dois anos depois, eu continuo sendo vista nas timelines e já fui reconhecida, inclusive nos escritórios onde estagiei. Vivo com medo de ser alvo de chacotas”, desabafou.
Hoje, a estudante está no quinto período de direito, mas na época teve de trancar o curso por conta das condições financeiras e prestou o Enem para tentar um novo financiamento. Após o episódio que expôs seu rosto nas redes sociais, ela ganhou bolsa de estudo em universidade privada pelo próprio Quero Bolsa (veja como conseguir) e pôde retomar as aulas.
Hevellyn pretende se especializar em crimes cibernéticos e ajudar pessoas que, assim como ela, viraram memes e foram vítimas de exposição e chacota na internet. “Já direcionei minha monografia para tratar do cyberbullying. Também já penso na minha pós-graduação, quando pretendo focar em direito da infância e juventude.”
Ela não para por aí. “Quando chegar o momento do mestrado, devo me aprofundar em direito da família e das sucessões e, se eu tiver a oportunidade, pretendo fazer doutorado voltado para educação”, contou.
E deixa um recado para quem ri e faz chacota dos atrasados do Enem:
“É algo lamentável e extremamente desrespeitoso. Meu recado é para que as pessoas ajudem todos que estão em dificuldades a levantar e seguir em frente. Também sou contra mobilizar as pessoas para curtir com a cara de quem teve alguma dificuldade e acabou se atrasando e sofrendo uma grande frustração.
Transformar esse sofrimento em cyberbullying é injusto e de extremo mau gosto. Na ação, nosso objetivo foi mostrar que as pessoas podem se mobilizar para ajudar. Vale muito a pena e faz bem para quem ajuda e para quem recebe auxílio.”
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