Flip 2022: 13 livros para ficar por dentro da programação

Em 2022, a Flip volta a acontecer presencialmente, em Paraty, mas desta vez em novembro

04/11/2022 10:05 / Atualizado em 07/11/2022 10:11

Após dois anos de intervalo pandêmico, a Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) volta finalmente a acontecer presencialmente, mas, desta vez, em novembro, do dia 23 ao 27. Se, em 2021, pela primeira vez, o evento transformou a curadoria num pensamento coletivo, neste ano, a ideia permanece, com a participação de profissionais que representam a diversidade regional brasileira.

A curadoria fica por conta de três nomes. A gaúcha Fernanda Bastos, jornalista, tradutora e editora de livros, que fundou, ao lado do crítico literário Luiz Mauricio Azevedo, a editora Figura de Linguagem, casa negra e independente sediada em Porto Alegre. Milena Britto, professora na Universidade Federal da Bahia que, entre outros temas, pesquisa gênero, literatura e estratégias de legitimação no campo literário. E Pedro Meira Monteiro, que é brasileiro e professor na Universidade de Princeton, onde fundou, com João Biehl, o Brazil LAB (Luso-Afro-Brazilian Studies), que congrega pesquisadores de diversas áreas e inúmeros países.

Diversa como os curadores, a programação da edição de 2022 do evento, que homenageia Maria Firmina dos Reis, primeira romancista brasileira, reúne uma série de nomes da literatura nacional e internacional (mas principalmente nacional) com o propósito de conectar pessoas das mais variadas origens e trajetórias. ​​A homenagem a Maria Firmina reafirma o desejo de que a pluralidade de discursos, que se reflete também nas combinações de mesas, promova uma troca real de perspectivas.

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Os ingressos para a programação principal já começaram a ser vendidos no último dia 31 pelo site da INTI,  plataforma de venda de ingressos, e as entradas custam R$ 120. Há uma cota de meia-entrada para estudantes, jovens de baixa renda, pessoas com menos de 21 anos, pessoas com deficiência, profissionais das redes pública e privada de ensino do RJ e pessoas com mais de 60 anos.

Para você ficar por dentro da programação, que pode ser conferida na íntegra no site da Flip, selecionei alguns livros de autores, cujos nomes integram o programa. Para quem vai ou não à Flip, a lista é uma excelente oportunidade de se conectar com autoras e autores e temas atuais, representativos das estéticas e discussões em curso na literatura brasileira e mundial.

Vamos a eles!

1. Saidiya Hartman, Vidas rebeldes, belos experimentos, Fósforo

Neste estudo inovador sobre a população dos cinturões negros da Filadéfia e de Nova York, Saidiya Hartman aposta na fabulação crítica para dar voz a personagens esquecidas e apagadas pelo status quo, em sua maioria jovens negras “em franca rebelião”. Billie Holiday, Paul Laurence Dunbar e W.E.B. Du Bois são algumas das personagens que convivem lado a lado com essas mulheres desordeiras numa reconstrução que se faz possível graças à combinação de um estilo literário a uma extensa pesquisa de arquivos, documentos e imagens.

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2. Natassja Martin, Escute as Feras, Editora 34

Inspirado em anotações e registros de diários da própria autora, o livro relata acontecimentos internos e externos, após seu encontro com um urso. Estudiosa do Grande Norte subártico, a autora viveu e trabalhou muito tempo entre os even, um povo que, tomando distância da civilização pós-soviética, preferiu voltar a viver no coração das florestas siberianas. Pesquisadora das relações entre humanos e não humanos e das presenças múltiplas que podem habitar um mesmo corpo, comuns entre cosmogonias originárias, Martin acaba por viver na pele a sua pesquisa.

3. Annie Ernaux, O Acontecimento, Fósforo

O Acontecimento conta uma história real, vivida pela autora, recém ganhadora do prêmio Nobel, Annie Ernaux, que se passou em 1963, quando ela era ainda uma estudante de 23 anos. O drama começa quando Annie engravida do namorado que acaba de conhecer e, sem poder contar com o apoio dele ou da própria família numa época em que o aborto era ilegal na França, vive praticamente sozinha o percurso que serve de inspiração para o livro, escrito 40 anos depois. Com a ajuda de trechos de seu diário, Ernaux reconstrói sua angustiante e solitária jornada para realizar um aborto clandestino.

4. Veronica Stigger, Sombrio ermo turvo, Todavia

Contos, causos, epifanias, poemas e textos de inspiração teatral. Estes são alguns dos formatos de texto reunidos em Sombrio ermo turvo, de Veronica Stigger. A variedade de forma e ritmos, nos brinda com um conjunto impactante de nossas fragilidades do corpo e da mente, sutilezas pinçadas cuidadosamente e trazidas à luz por uma poética sensível e intensa, fragmentos familiares, sutis e incômodos, que compõem a colcha, que como é próprio da autora, nunca deixa de lado a ironia, o fantástico, o humor e a violência.

5. Cidinha da Silva, Um Exu em Nova York, Pallas

Uma perspectiva contemporânea e ficcional do cotidiano, sobre temas como política, crise ética, racismo religioso, perda generalizada de direitos (principalmente por parte das mulheres), negros e grupos LGBT. Essa é a façanha realizada por Cidinha da Silva no livro de contos Um Exu em Nova York. Alcançando por meio da ficção uma reflexão profunda sobre o que a autora considera marcadores importantes do século 21, a obra é classificada por ela como livro-dínamo.

6. Amara Moira, E se eu fosse puta, Hoo

Professora de literatura, doutora em Letras pela Unicamp e prostituta em Campinas, Amara Moira traz um relato autobiográfico sobre sua transição de gênero e as experiências como profissional do sexo. Em Se eu fosse puta, a autora mostra a vida por trás dos panos da profissão mais mal falada do mundo, expondo angústias, medos, preconceitos, mas também os prazeres que ali conheceu. Escancarando verdades que a sociedade esconde, ela aborda o cotidiano da prostituição, sobretudo da perspectiva trans: o dia a dia da rua, a barganha, o homem antes e depois de pagar.

7. Carol Bensimon, O clube dos jardineiros de fumaça, Companhia das Letras

Ambientado na Califórnia e tendo como pano de fundo a descriminalização da maconha, O clube dos jardineiros de fumaça é um retrato magistral da geração hippie. Vencedor do Prêmio Jabuti 2018 na categoria Romance, o livro se passa num cenário formado por coníferas milenares, estradas sinuosas e falésias, a região californiana do Triângulo da Esmeralda concentra a maior produção de maconha dos Estados Unidos. É lá que o jovem professor brasileiro Arthur busca recomeçar a vida, depois dos acontecimentos que o levaram a deixar Porto Alegre.

8. Benjamin Labatut, A Pedra da Loucura, Todavia

As estranhas mudanças na experiência humana são o tema deste livro, e é nelas que o autor mergulha para investigar o caos e tentar remover a pedra da loucura que cresce como em nossa cabeça, enquanto o mundo toma formas nas quais não podemos mais acreditar. No livro, que é composto de dois ensaios, Labatut nos lembra que às vezes enlouquecer pode ser uma resposta adequada à realidade, e que o preço que pagamos pelo conhecimento, com frequência, é a perda da compreensão.

9. Patricia Lino, O Kit de Sobrevivência do Descobridor Português no Mundo Anticolonial, Macondo

Nessa obra, se destaca por seu caráter paródico e experimental, a poeta apresenta uma série de 40 objetos que, como indica o título, funcionam como salva-vidas da cultura colonial portuguesa. Apostando na ironia como tempero ácido e saboroso, o Kit, que funciona como um manual de instruções e um livro de auto-ajuda, auxilia falsamente a falsa vitimização do privilegiado.

10. Camila Sosa Villada, O parque das irmãs magníficas, Planeta

Quando chegou à cidade de Córdoba para estudar na universidade, a autora argentina Camila Sosa Villada decidiu ir ao Parque Sarmiento durante a noite. Sentia medo, pensando que poderia se concretizar a qualquer momento o brutal veredito que havia escutado de seu pai: “Um dia vão bater nessa porta para me avisar que te encontraram morta, jogada numa vala”. Para ele, esse era o único destino possível para um rapaz que se vestia de mulher. Camila queria ver as famosas travestis do parque, e lá, diante daquelas mulheres e da difícil realidade a que são submetidas, foi imediatamente acolhida e sentiu, pela primeira vez em sua vida, que havia encontrado seu lugar de pertencimento no mundo.

11. Ladee Hubbard, A Talentosa Família Ribkins, Paralelo13s

A Talentosa Família Ribkins, romance de Ladee Hubbard inspirado no famoso ensaio O décimo talentoso, de W.E.B. Du Bois, tem no enredo a história de uma família afro-americana com talentos especiais. A autora, que recebeu o Prêmio Ernest J. Gaines 2018 por Excelência Literária, entre outros, toma como ponto de partida para a obra o contexto histórico do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos. Toni Morrison, uma das primeiras leitoras do texto, declarou que A Talentosa Família Ribkins é um romance “original e ousadamente inventivo”.

12. Geovani Martins, Via Ápia, Companhia das Letras

Nesta engenhosa narrativa sobre os impactos da instalação da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) na vida dos moradores da Rocinha, a trama é dividida em três partes: a expectativa com relação à invasão; a ruidosa instalação da UPP; e a silenciosa partida da polícia e a retomada dos bailes funk que fazem o chão da favela tremer. Em capítulos curtos, que trazem perspectivas cruzadas, o narrador nos conduz pelas vidas dos cinco jovens protagonistas – suas paixões, amizades, dramas pessoais, ambições, frustrações, sonhos e pesadelos.

13. Ricardo Aleixo, Pesado demais para a ventania, Todavia

O mineiro Ricardo Aleixo é também um performer experimentado e mesmerizante. Na Flip de 2017 sua atuação na Tenda dos Autores teve a eletricidade de um show de rock. Sua obra, reunida aqui em seus momentos mais representativos, traz temas como o amor, os relacionamentos, a literatura, a cidade, o racismo, os antepassados e a própria poesia. Divididos em seis grandes seções, os poemas aqui compilados são a melhor porta de entrada para a obra de uma das grandes vozes literárias do Brasil.