Na escola Ateliê Carambola, todo dia tem experiência sensorial
A proposta é que a escola seja para a criança mais do que um lugar, mas um conceito, um espaço de experiências e construções de percursos criativos. Para isso, os educadores buscam inspirações nas mais diversas linguagens, desde Emmi Pikler até Manoel de Barros.
Porém, para além das referências teóricas consolidadas, como colocar tudo isso na rotina prática dos pequenos? Por incrível que pareça, a aplicação desses conceitos é mais simples do que parece.
No caso da Ateliê Carambola, todo dia é dia de experiência sensorial. E isso é muito. São vivências que não demandam muitos recursos (físicos e financeiros), mas rendem ganhos significativos na apreensão de mundo dos pequenos. “As crianças são incríveis, muito inteiras -pesquisam com o corpo, intelecto, múltiplas linguagens, sensibilidade, sensação e, acima de tudo, com muito prazer e inteireza. É por assumir essa ‘imagem de criança’ que fazemos as escolhas pedagógicas que fazemos”, avalia a diretora da escola, Josiane Del Corso.
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Uma das coisas mais valorizadas pela escola, por exemplo, é o cuidado com o quintal e o espaço que ele ocupa não só no dia a dia das aulas, mas principalmente no imaginário das crianças, como símbolo da vida ao livre e do ‘desemparedamento’ que limita o espaço de ser dos pequenos. “O quintal é local privilegiado, nobre da nossa escola”.
A partir dessa escolha prévia da escola, a criança automaticamente apreende quais são os valores em voga naquele espaço privilegiado, e a partir daí ganham novos instrumentos para ressignificar a cidade, o bairro, e a sociedade em geral.
Nas fotos abaixo, que a escola dividiu com o Catraquinha, é possível ter um gostinho de como foi um desses experimentos. Intitulado “Linguagens da comida”, a “sessão”, como eles batizaram, constitui na prática um exercício de explorar as cores, texturas, cheiros e sabores dos alimentos, e a partir daí descobrir novas formas de interação com eles. Vivências simples de reproduzir em outros contextos e locais.
Para se inspirar a colocar iniciativas como essa em prática, confira a entrevista com Josiane:
Como funcionam na práticas as experiências sensoriais que a escola promove?
Chamamos de sessão. São oportunidades e contextos de aprendizagem organizados pelos professores, sempre com pequenos grupos de crianças, com objetivo de aprofundar a pesquisa sobre alguma tema/projeto que esteja mobilizando as crianças.
O professor, o adulto, na escola, tem esse papel: apoiar os processos de aprendizagem das crianças, a partir de uma escuta atenta dos interesses desse meninos e meninas.
Com profundo conhecimento da infância e das crianças da escola, o professor é capaz de – ao observar -, compreender quais são as necessidades e dúvidas que a criança revela; muitas vezes, isso acontece de modo não verbal, pois as crianças são múltiplas em suas linguagens. A partir dessa escuta, então, são planejadas e propostas as sessões e outros contextos de investigação.
Como vocês definiriam essas experiências, de acordo com o projeto pedagógico da escola?
O projeto político-pedagógico da escola é uma tomada de posição (também ética e estética) em relação à imagem de criança na qual acreditamos. Acreditamos que a criança já é (não está em formação). Que a criança é potente, uma pesquisadora interessada, muito capaz, que elege os próprios desafios e investiga pelo prazer do processo e da descoberta.
A escola se constitui, então, como um espaço de pesquisa e aprendizagem, um contexto que favoreça, enriqueça, aprofunde as possibilidades de descobertas de meninos e meninas. Não é um local de conteúdo estanque, mas de criação de conhecimento.
As crianças são incríveis, muito inteiras – pesquisam com o corpo, intelecto, múltiplas linguagens, sensibilidade, sensação e, acima de tudo, com muito prazer e inteireza. E é por assumir essa “imagem de criança” que fazemos as escolhas pedagógicas que fazemos.
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