Atores LGBT+ estão sendo mais aceitos em papéis de galãs e protagonistas?

Saiba quem são os atores LGBT+ que interpretaram galãs e protagonistas em novelas nos últimos anos

Por muito tempo atores LGBT+ que interpretavam galãs e protagonistas em novelas tinham que esconder suas sexualidades devido a grande pressão da sociedade em “aceitar” tal personagem feito por um artista que se relacionasse com outro homem na vida real.

Pois bem, o ano é 2022, e três homens LGBT, Jesuíta Barbosa (bissexual), Irandhir Santos (gay) e Lucas Leto (gay) interpretam protagonistas na nova versão da novela “Pantanal” e o público, em sua grande parte, deixou essa desaprovação no passado.

Atores LGBT+ estão sendo mais aceitos em papéis de galãs e protagonistas?
Créditos: Reprodução/Instagram
Atores LGBT+ estão sendo mais aceitos em papéis de galãs e protagonistas?

É claro que essa aparente mudança do grande público perante o tema não mudou da noite para o dia, foram muitos anos de artistas tendo que esconder quem eles eram para serem protagonistas ou até mesmo para garantirem o próximo papel, já que o preconceito não era exclusividade dos telespectadores, mas vinha também de quem era responsável por tais produções.

Diferentemente do passado, atualmente atores conseguem expor suas relações homoafetivas livremente, seja sendo clicado beijando alguém na rua ou até mesmo através de uma postagem de demonstração de afeto nas redes sociais.

Jesuíta Barbosa que faz o “Jove” em “Pantanal” vira e mexe anda sendo fotografado em suas saidinhas com o amado. Além disso, o ator também já se declarou bissexual em algumas ocasiões. “Sou livre e fico com quem eu quiser, sejam homens ou mulheres. Prefiro não me bloquear”, disse Jesuíta Barbosa em entrevista à Veja.

Irandhir Santos faz o o peão “José Lucas” na atual novela das 9 da Globo e também tem sua vida amorosa exposta a quem deseja ver. Ele é casado com o professor Roberto Efrem Filho. “A sua vida, o meu caminho, nosso amor. Que sorte a minha”, declarou Irandhir em publicação feita no Story do Instagram.

Lucas Leto vive “Marcelo” na mesma novela, mas na vida real ele é namorado do diretor Marcelo Bahia. O ator que já namorou Ícaro Silva, tem sua vida pessoal mais reservada, no entanto, em setembro deste ano, apareceu de mãos dadas com seu namorado no Rock In Rio.

As grandes mudanças no mundo para a comunidade LBTQIA+

Apesar de percebemos um público um pouco mais tolerante do que foi no passado, essas conquistas não poderiam ser celebradas pela comunidade se não existissem àqueles que abriram os caminhos, ou seja, os que vieram antes e tiveram que se esconder para alcançar o sucesso.

Essa mudança de comportamento do público perante os artistas LGBTQIA+ que fazem protagonistas em novelas deve-se às transformações sociais no último século no Brasil, como a oficialização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, a criminalização da LGBTfobia, o apoio das grandes marcas em suas publicidades exaltando a comunidade, uma nova geração mais consciente em relação à orientação sexual, identidade de gênero e diversidade, além do fortalecimento da própria comunidade LGBT em não aceitar mais sofrer violências que foram normalizadas por décadas não só no Brasil, mas no mundo.

Atores que protagonizaram novelas e atualmente são abertamente LGBTQ+

Não precisa ir muito ao passado para ver como uma geração de atores foi afetada psicologicamente por não poder verbalizar ou expressar seus verdadeiros sentimentos. Eles não tiveram o prazer de dizer ao mundo quem eles realmente eram ou até mesmo, não podiam demonstrar homoafetividade publicamente pois o moralismo, muito mais forte do que hoje, estava logo ali na esquina.

Mesmo que tenha acontecido depois, atores LGBTQ+ que se esconderam no passado, começaram a “sair do armário” e revelar ao mundo que são homens que se relacionam com outros homens.

Marco Pigossi

Marco Pigossi, considerado um dos galãs da Globo na última década, só se assumiu gay em 2021, quando fez uma publicação ao lado de Marco Calvani, seu atual namorado. Mas, para ele, os anos sendo a sensação do momento foram dolorosos, afinal, nem ele sabia exatamente pelo que se atraía e qual caminho poderia trilhar sendo um dos galãs globais mais cobiçados, principalmente por um público feminino.

“Na minha cabeça, não havia nenhuma margem de chance para eu me assumir. Se fizesse isso, todas as portas se fechariam para mim de forma automática (…) Essa possibilidade me aterrorizava”, disse ele em entrevista ao UOL.

Reynaldo Gianecchini

“Eu me considero tudo ao mesmo tempo. Se existir uma palavra para mim, então é ‘pan’ [pansexual], porque ‘pan’ é tudo’”, disse o ator em entrevista à agência de notícias EFE.

Hugo Bonemer

“Acredito que o mercado está passando por transformações e eu espero, de coração, também poder aproveitar a abertura do mercado para artistas jovens e assumidamente LGBTs que não sejam do humor. Espero que isso não seja um benefício somente das próximas gerações”, disse em entrevista ao site Gay.blog.br.

Anderson Muller

“Achei lindo as pessoas comentando com carinho. O importante é o universo, o mundo, é o nosso país acabar com essa palhaçada, essa loucura de achar o que é certo, o que é normal e o que é anormal. O que é anormal é a mentalidade desumana que a gente está vivendo, isso é que é uma coisa fora do normal”, falou através de rede social.

Ícaro Silva

“Entendo que precisamos dar nomes às nossas identidades para que sejam legitimadas, mas eu me vejo totalmente aberto às possibilidades de relacionamento afetivo. Isso porque fui descobrindo que é assim mesmo. Já me identifiquei com várias letras da sigla (LGBTQIAP+) e entendi como transitam na minha cabeça'”, disse o artista em  entrevista com jornalista Eduardo Vanini, da revista ELA, do jornal O Globo.

Armando Babaioff

“Você é luz por onde passa, garoto! E pra mim não seria diferente. Que bonito poder celebrar a sua vida com tanta alegria e juntos novamente, do jeito que você gosta. Obrigado por poder compartilhar essa vida contigo, meu amor, meu amigo, meu mala-favorito. Obrigado por ser inspiração e gentileza nessa vida tão maluca. Amo você, cara!”, postou Victor Novaes, namorado de Babaioff em comemoração dos 41 anos do ator. “Amo você e tudo o que você representa”, respondeu o ator na publicação.

Igor Cosso

“Parece que eu acabei dando um passo importante pra mim hoje. Que eu possa ser exemplo de caráter, coragem e liberdade pra todxs que acompanham meu trabalho como ator (espero que não falte trabalho, porque esse sempre foi o meu medo, na real). […] Bom, eu só quero trabalhar em emissoras e produtoras que entendam que a orientação de um ator nada tem a ver com o seu ofício, caráter e profissionalismo. E nesses quesitos, eu me garanto”, declarou o ator quando se assumiu homossexual.

Erom Cordeiro

“Seu dia, peixe! Mais uma volta e seguimos. Só agradeço. Sempre! Mil vivas para você nesse mundão”, escreveu o ator em homenagem ao amado. “Esse post me faz querer viver! Meu grande amor”, respondeu Rodrigo Bolzan.

Carmo Dalla Vecchia

O ator se declarou para o marido, João Emanuel Carneiro, durante participação na “Super Dança dos Famosos” em 2021. Ele também falou sobre o filho de ambos, Pedro.

“É uma música que fala basicamente sobre sororidade, sobre empatia e sobre família. E eu gostaria de fazer uma homenagem muito grande à minha família, mandar um beijo grande e declarar o meu amor ao meu filho, Pedro, e ao meu marido, João”, disse ele em rede nacional, sobre a música We Are Family, do grupo Sister Sledge, que tinha acabado de apresentar.

“Gostaria muito de declarar meu amor aos dois. Acho muito importante esse posicionamento para que outras pessoas também possam ver isso e se sentir iguais. Sou um cara extremamente feliz, extremamente realizado, com uma profissão que eu amo, com amigos, com uma família que me aceita exatamente do jeito que eu sou”, disse durante o “Domingão”.

Johnny Massaro

“Nunca escondi quem sou. Só nunca tive vontade de falar que estava com alguém. Foi mais uma questão de momento, de confiança de que era para ser dessa forma. Se isso fechar alguma espécie de porta é porque essa porta não deveria ser aberta. O que tiver a partir disso é porque era sobre isso mesmo. É um momento de fortalecer não só discursos, mas identidades e possibilidades. Meu trabalho vem antes disso, independe disso”, falou o ator em entrevista à Patrícia Kogut, do O Globo.

Leonardo Vieira

Esse é um caso a parte em relação aos outros atores porque apesar de atualmente ele ser assumidamente gay, sua “saída do armário” foi forçada e repercutida negativamente entre o grande público. As transformações na vida do ator após assumir sua sexualidade fizeram ele até se mudar para Portugal para não sentir a pressão que estava convivendo no Brasil.

“Fui arrancado do armário contra a minha vontade e depois disso a minha vida virou de cabeça para baixo. Passei a sofrer ameaças de morte e desde então nunca mais fui chamado para um trabalho”, contou o ator de 53 anos em entrevista com a Patrícia Kogut, do O Globo. “Eu sou cidadão português e já tinha planos de morar no país algum dia. Acabei, então, tomando a decisão. Mas não tenho feito trabalhos como ator por aqui. Não é algo que eu esteja procurando”, contou.

O passado dos LGBT+ na dramaturgia

O medo de Leonardo Vieira, e também de outros artistas LGBTQIA+ em falar publicamente sobre a própria sexualidade não é atoa. Antes do avanço de parte da sociedade a respeito das pautas LGBTQ+, alguns casos de personagens LGBT tiveram repulsa do público e tiveram que ser retirados do ar, isso quando cenas envolvendo homoafetividade foram vetadas antes mesmo de serem exibidas.

Como aconteceu em 1998, na novela “Torre de Babel”, quando as personagens lésbicas, Leila (Silvia Pfeiffer) e Rafaela (Christiane Torloni), morreram em uma explosão no shopping após severa rejeição do público.

Outro episódio, que sequer chegou a ir ao ar, foi o beijo entre os personagens Júnior (Bruno Gagliasso) e Zeca (Erom Cordeiro) no capítulo final de “América”, em 2005. A frustração foi geral, mas o medo de desagradar o público era maior. Por isso, que apesar de todos os avanços, é preciso relembrar de onde surge tanto medo de artistas LGBTQIA+ falarem abertamente sobre suas sexualidades.