Brasileira é alvo de racismo no TikTok: ‘Vão te demitir por expor filha dos outros’
Tiane Gleason posta vídeos relatando sua rotina como mãe negra e imigrante nos Estados Unidos
Uma brasileira que reside atualmente nos Estados Unidos sofreu racismo em suas redes sociais após começar a divulgar um pouco da sua rotina com a filha em sua conta no TikTok. Tiane Gleason, 34 anos, vive há cinco em Los Angeles, na Califórnia, aborda principalmente a temática de uma imigrante e mãe de primeira viagem, sendo negra com uma filha branca.
“Aqui nos Estados Unidos o racismo é mais escancarado, e é encarado como liberdade de expressão. Eles acreditam que você está tendo liberdade de expressão ao falar algo assim. O Bryan [marido dela] nunca tinha visto o racismo de perto até casar comigo”, fala.
Em entrevista ao “Uol”, ela disse que passou a sofrer uma série de ataques racistas depois de motrar os registros com a filha. Em um vídeo resposta que viralizou na rede social, Tiane teve que rebater ao seguinte comentário feito por uma mulher que desativou a conta na plataforma “Vão te demitir por expor filha dos outros”.
- Escovar os dentes ajuda a prevenir grave doença, revela Harvard
- América Central: 5 países para incluir na sua próxima viagem
- Férias com crianças a 40 minutos de São Paulo
- Já ouviu falar de transplante de sobrancelha? Veja curiosidades sobre o procedimento
“Queríamos engravidar e fizemos várias tentativas por dois anos. Eu tenho fibromas, e, por isso, seria mais difícil ter um bebê, mas não sabia que seria tanto. Não foi um momento fácil. Começamos um tratamento, entramos para a fila da adoção e logo depois descobri que estava grávida. Vivo um casamento inter-racial, isso é bem diferente”, relatou a brasileira.
Comentários chamando-a de “babá”
No depoimento, ela falou como enfrenta o racismo, tanto online quanto no dia a dia presencialmente. Tiane fala que aprendeu com a mãe a encarar esses tipos de situações, que, infelizmente, “sempre ocorrerão em qualquer parte do mundo”.
“Meu marido é branco, judeu, e já chegamos a ouvir que ele não deveria ficar comigo porque sou negra. Uma vez um homem quase bateu nele na rua, dizendo que ele não deveria estar casado comigo. Quando engravidei, chegamos a conversar como iríamos orientar nossos filhos, imaginando que seriam negros. Se fosse uma menina, iríamos explicar a questão do cabelo crespo. Já se fosse menino, iríamos ensinar a sair do carro, se algum policial o parasse”, conta.
Filha “muito branca”
Surpreendendo o casal, a filha deles nasceu “muito branca”, como a própria Tiane descreve. A partir do nascimento, toda vez que ela vai à rua com a neném e outra pessoa, como a cunhada, por exemplo, nunca se dirigem a ela como a mãe da menina.
Tiane tem mais de 177 mil seguidores em sua conta no TikTok e já fez uma série de postagens falando sobre sua história de vida. Ela tirou dúvida de muitas pessoas que perguntam sobre a diferença física entre ela e a filha.
“Oi, gente. Só para esclarecer: essa pequenininha aqui é a minha filha, tá? Só poque eu sou preta e ela é branca não significa que ela não saiu de mim. Ela é minha filhota. É que meu marido é muito branco. Muita gente pergunta se eu sou babá. Eu já fui babá. Agora eu não sou mais. Agora só cuido da minha filhota, que é a minha princesa”, falou em uma das publicações.
Racismo é crime
Racismo é crime previsto pela Lei 7.716/89 e deve sempre ser denunciado, mas muitas vezes não sabemos o que fazer diante de uma situação como essa, nem como denunciar, e o caso acaba passando batido.
Para começar, é preciso entender que a legislação define como crime a discriminação pela raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, prevendo punição de 1 a 5 anos de prisão e multa aos infratores.
A denúncia pode ser feita tanto pela internet, quanto em delegacias comuns e nas que prestam serviços direcionados a crimes raciais, como as Delegacias de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), que funcionam em São Paulo e no Rio de Janeiro.
No Brasil, há uma diferença quando o racismo é direcionado a uma pessoa e quando é contra um grupo.
Racismo x injúria racial
Assim como definido pela legislação de 1989, racismo é a conduta discriminatória, em razão da raça, dirigida a um grupo sem intenção de atacar alguém em específico. Seu objetivo é discriminar a coletividade, sem individualizar as vítimas.
Esse crime ocorre de diversas formas, como a não contratação de pessoas negras, a proibição de frequentar espaços públicos ou privados e outras atividades que visam bloquear o acesso de pessoas negras. Nesses caso, o crime é inafiançável e imprescritível.
Quando o crime é direcionado a uma pessoa, ele é considerado uma injúria racial, uma uma vez que a vítima é escolhida precisamente para ser alvo da discriminação.
Essa conduta está prevista no Código Penal Brasileiro, artigo 140, parágrafo 3, como um crime contra a honra, sendo o fator racial uma qualificadora do crime.
É importante ressaltar que em casos de racismo, além da própria vítima, uma testemunha pode denunciar o crime. O mesmo não vale para o crime de injúria racial, pois somente a vítima pode se manifestar sobre o ataque na justiça. Conheça outros canais para denunciar casos de racismo.