Fernanda Montenegro ataca Bolsonaro e detona nova direção da Ancine
"Nós somos imorredouros. Nós sobrevivemos uma vez. Desta vez, é uma forma assassina", afirmou a atriz, de 90 anos
A atriz Fernanda Montenegro atacou o governo de Jair Bolsonaro e criticou a nova direção da Agência Nacional do Cinema (Ancine), durante o Festival do Rio de cinema, em entrevista à Revista Quem. Para a veterana, de 90 anos, a escolha do presidente para comandar a agência que decidiu retirar os cartazes de históricos filmes brasileiros da parede da instituição, é “assassina”.
“Se eles pudessem, estaríamos todos num paredão e eles atirando em nós com metralhadoras”, declarou Fernanda Montenegro.
A atriz comparou o período atual com a ditadura militar (1964 – 1985), quando a produção cultural brasileira era censurada pelo regime. “Nós somos imorredouros. Nós sobrevivemos uma vez. Desta vez, é uma forma assassina”, afirmou Fernanda Montenegro.
Fernanda Montenegro também criticou o discurso religioso do presidente para atacar a cultura. “É difícil. Sem cultura não há educação e sem educação não há cultura. Eu não entendo o que está acontecendo com este país, com tantos xingamentos. Não há explicação. É uma nova moralidade que condena qualquer estrutura contrária ao seu Deus”, concluiu.
“A Vida Invisível”
A atriz participou, em 2019, do filme “A Vida Invisível”, de Karim Aïnouz, que a Ancine proibiu a exibição para funcionários, na sede da agência, na semana passada.
Em resposta, os funcionários organizados pela Associação dos Servidores Públicos da Ancine (Aspac) realizaram uma exibição ao ar livre, na Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro (RJ), na noite de quinta-feira, 12. O evento contou com a participação de cerca de 500 pessoas.
“A Vida Invisível” está inscrito pelo Brasil na disputa para o Oscar 2020.
A Aspac tocou no evento, um áudio de Fernanda Montenegro, também no elenco de “A Vida Invisível”, gravado especialmente para o evento.
“Sou uma sobrevivente de 75 anos de vida pública nesse país e a cultura é sempre a primeira que vai sendo calada porque é vibrante e a força da vida um povo”, disse Montenegro, 90.
“Não há um filme na minha vida em que eu não esteja em estado de protesto. É uma batalha. E a gente vai vencer. Já saímos de guerras piores. Artista? Sobrevive sempre”, ela concluiu.
A projeção foi seguida de um debate com dois produtores do filme, Rodrigo Teixeira e Camilo Cavalcante, e dois atores Julia Stockler e Gregorio Duvivier.
“A família tradicional cristã, que esse governo quer encarnar, nunca existiu, e o filme mostra isso. É uma ideia falida e nunca deu certo. Foi muito angustiante fazer esse filme e ao mesmo tempo muito recompensador”, afirmou Duvivier
“Sem desobediência civil, esse país já teria acabado. Nosso maior ativo é jamais se curvar. Somos um país de gente insubmissa e desobediente”, finalizou o ator, arrancando palmas e gritos da plateia.
“Produzimos isso em três dias para dar uma resposta para a Ancine”, disse uma funcionária da agência, agradecendo ao público presente.
Segundo um funcionário, a justificativa da direção da Ancine para o cancelamento foi que um projetor da sala de exibição estava quebrado, mas ao falarem com o funcionário responsável pela sala constataram que não havia problemas.