Guardiões da Galáxia 2 parece ser feito por crianças e isso é bom
Existe um webcomic chamado Axe Cop, criado por um artista de 29 anos que começou a desenhar as histórias mirabolantes inventadas por seu irmão de 5 anos. O resultado é uma insanidade infantil na qual um policial durão de machado em mãos enfrenta aventuras com dinossauros falantes e unicórnios voadores.
E essa parece ser a atitude que guia “Guardiões da Galáxia Vol. 2”, novo filme da Marvel que, se não teve crianças de carne e osso na sala de roteiro, certamente foi escrito pela criança interior do também diretor James Gunn. O resultado é uma homenagem à inocência e ingenuidade tanto em sua história quanto a dos próprios personagens.
A história se passa pouco depois do primeiro filme, com os guardiões Peter Quill (Chris Pratt), Gamora, (Zoe Saldana), Drax (Dave Bautista), Rocket (Bradley Cooper) e o pequeno Groot tendo sérias crises de relacionamento entre si. Unem-se a essa família disfuncional a vilã Nebulosa (Karen Gillan), a empata Mantis (Pom Klementieff) e o pirata boa praça Yondu (Michael Rooker), conforme o grupo desvenda o mistério da origem de Peter Quill. Que é nada menos que um planeta falante interpretado por Kurt Russell!
“Guardiões da Galáxia 2” sabe que a sua premissa é ridícula. Ele tem afinal piratas espaciais, árvores ambulantes, guaxinins sarcásticos, planetas falantes, sacerdotisas racistas douradas e monstros interdimencionais cheios de tentáculos. O que ele consegue fazer muito bem é desarmar as salvaguardas do público usando de doses cavalares de fofura, diversão e personalidade própria.
Essa personalidade própria e tom de brincadeira torna o filme acessível e divertido para o público mais geral e não apenas ao nerd hardcore de conhecimento enciclopédico que vai reconhecer todas as referências ao universo Marvel nos quadrinhos. O clima de espontaneidade também faz com que sejam irrelevantes os inúmeros furos do roteiro e situações ridículas. Quem quer ser o chato apontando erros na brincadeira de crianças?
Outro fator que chama atenção é como a música está em primeiro plano, ainda mais que no primeiro filme. “Guardiões 2” é praticamente um musical de ação no espaço, com faixas quase inteiras tocando conforme insanidades como um massacre perpetrado por uma flecha voadora acontecem na telona. Na trilha dessa mixtape, claro, diversos clássicos dos anos 1970 que ajudam a dar um tom próprio à aventura futurista.
A sensação que fica é que no primeiro filme Peter Gunn precisou provar que funcionaria a ideia maluca de uma comédia espacial com um time B da Marvel como os Guardiões da Galáxia. Tese provada, ele pôde expandir a ideia, com um roteiro menos convencional – crítica frequente à frente dos Vingadores no universo cinematográfico – abusar da fofice do Groot pequenino, do humor de tiozão do Drax, da música, da ação, dos efeitos, da comédia, de cada personagem.
“Guardiões da Galáxia Vol. 2” é uma rara combinação de filme de personalidade e orçamento gigantescos. E ele possui não uma, mas cinco cenas de fim de créditos que já indicam que o universo espacial da Marvel pode se expandir em diversas outras frentes espaciais, tanto em continuações como em possíveis filmes spinoff. E mostra que provavelmente vai valer a pena acompanhar essa brincadeira até o fim.