‘Minha quarentena começou em 2018’, diz William Bonner no ‘Conversa com Bial’

Âncora do "Jornal Nacional" diz que desde o ano em que Bolsonaro foi eleito presidente, a situação ficou muito mais violenta para os jornalistas

27/05/2020 02:42

Em rara aparição fora do “Jornal Nacional“, William Bonner bateu um papo com Pedro Bial na madrugada desta quarta-feira, 27, no “Conversa com Bial”, da TV Globo. O âncora do “JN” falou bastante sobre o cenário político atual, e confessou que, por conta desses tempos mais violentos, sua quarentena teria começado em 2018, e não agora com a pandemia do novo coronavírus.

O assunto começou quando Bonner relatou suas primeiras experiências no Twitter. “Foi no ambiente virtual que essa violência surgiu de uma maneira muito assustadora. Eu abri uma conta no Twitter que não era para trabalho, era só para me divertir. Mas eu notei uma mudança de ambiente. O que era diversão, uma diversão boba, infantil, transformou-se no que eu chamo hoje de campo de batalha. Eu, hoje, muito raramente entro em rede social. Entro às vezes por dever de ofício, mesmo. Eu ainda hoje me assusto com a bile, com o ódio que escorre nas palavras, nas palavras mal escritas, nas palavras cuspidas. Mas um ódio! É um ódio tão intenso que a gente não sabe a que levará”, comentou Bonner.

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William Bonner afirma que está de quarentena desde 2018, ano da eleição de Jair Bolsonaro
William Bonner afirma que está de quarentena desde 2018, ano da eleição de Jair Bolsonaro - reprodução/TV Globo

O jornalista também fez uma análise que, agora, nas ruas, o ambiente é o mesmo. Pedro Bial questionou o jornalista sobre quando teria começado sua quarentena. “As minhas bochechas mostram que a minha quarentena não começou há dois meses. Minha quarentena começou no ano eleitoral de 2018. Em 2018, a polarização política chegou a tal ponto que a minha presença em determinados locais públicos era motivo de tensões. E quando eu percebi isso, dentro de farmácia, dentro de livraria, na calçada, na rua, na padaria, no cinema… fui verbalmente agredido, insultado, desafiado”, disse Bonner.

O âncora do “JN” relembrou-se de um caso em que uma mulher, dentro de uma padaria, fez um escândalo contra ele. “Dentro de uma padaria, numa manhã de sábado, no bairro da Lagoa, uma cidadã embriagada, por volta das 10h, ela se viu no direito não de apenas me insultar aos brados, mas ela fazia isso a um palmo e meia de distância do meu rosto. E eu não posso reagir a isso. E as pessoas à volta era um constrangimento atroz, sem fim. E eu, no meu constrangimento, querendo me livrar de uma situação em que estoiu sendo alvo de um insulto, eu me sinto culpado de estar sendo insultado na frente de outras pessoas que estavam ali, só comendo um pão na chapa”, relatou o jornalista.

Bonner ainda fez uma análise sobre como a política mudou a visão do público brasileiro sobre ele. “Tem gente hoje me aplaudindo, que dois ou três anos atrás estavam me xingando. E vice-versa. Eu falo de mim, mas também de toda uma categoria profissional. Mas eu sou um símbolo. Brasileiro que tenha hoje 34 anos de idade, tinha 10 quando eu entrei no ‘JN’, eu sou o ‘JN’ para essa pessoa, eu sou o jornalismo da Globo, eu sou a Globo, eu sou a mídia. Eu simbolizo muita coisa para muitas pessoas que não me conhecem.”, disse.