Participação de Chay em novo clipe de Manu Gavassi gera polêmica
Ativista contra relacionamentos abusivos, Feminisa publicou uma carta aberta à cantora que viralizou na web
A ativista feminista, Feminisa publicou uma carta aberta no Twitter à Manu Gavassi criticando a participação de Chay Suede em seu novo clipe, ‘Deve ser horrível dormir sem mim’. O texto que fala sobre relacionamento abusivo foi publicado na noite de sexta-feira, 21, mas viralizou neste domingo, 23, e está dando o que falar.
Feminisa deixa explicito em seu perfil na rede social que o objetivo da carta não é cancelar Manu, porque “nessa história toda ela (Manu Gavassi) não é algoz. É vítima. Se qualquer mulher sem público se sente pressionada pra lacrar em cima do trauma e perdoar agressor, não dá nem pra imaginar a pressão em cima dela”, afirmou a ativista que também apontou: ” To esculachando cada um que ta aplaudindo ela sendo moralmente forçada a se reconciliar com seu agressor”.
Não entendi quem tá falando q esculachei ela. To esculachando cada um que ta aplaudindo ela sendo moralmente forçada a se reconciliar com seu agressor! E quem ta julgando por isso também.
Ela continua acolhida aqui no meu abraço.— FEMINISA (@afeminisa) August 22, 2020
A ativista, que tem um trabalho para conscientizar mulheres sobre relacionamentos abusivos, disse que conheceu Manu em 2013 e ficou chocada ao saber que a cantora “usou de uma situação de violência para publicizar um trabalho”. Feminisa considera que reconciliação entre a cantora e Chay Suede não deveria acontecer.
“Hoje infelizmente soube que você convidou seu agressor para protagonizar um trabalho seu. Sim, seu agressor, porque violência psicológica É violência doméstica, segundo a lei 11.340 de 7 de agosto de 2006”, aponta a ativista.
Ela ainda pondera que violência contra a mulher não é marketing e resgata os dados da violência doméstica para mostrar que o assunto é serio.
“Durante seu clipe de 10:22, cerca de 90 mulheres foram agredidas fisicamente no Brasil (dados da pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública) Relacionamento abusivo não é uma brincadeira. Não é perdoável, não é publicizável. Violência contra a mulher não é marketing. Espero de todo o meu coração que por todas as vítimas que sobrevivem a traumas dia após dia, seja feita uma retratação. Sua música é ótima, você também. Mas o que vi hoje, é inaceitável. Como sobrevivente: eu não aceito”, afirmou Feminisa.
A ativista finaliza a carta pedindo que Manu Gavassi se retrate. Até o momento da publicação desta matéria, a cantora não havia se manifestado.
Veja a íntegra da carta no fio abaixo:
Eu voltei pra essa rede só pra escrever uma carta aberta à @manugavassi :
Manu, a gente tem bastante coisa em comum. Histórias, vivências e pessoas.
Uma coisa que a gente não tem em comum é nossa visão sobre a violência doméstica.
Explico:— FEMINISA (@afeminisa) August 21, 2020
Na hora pensei “filho da puta” e segui minha vida.
Em 2016 vivi um relacionamento abusivo bastante parecido com tudo o que você descreveu, tanto nas letras de suas músicas, quanto no programa – que assisti torcendo por você até o fim.
Eu sei o que você viveu, eu sei o que é ver +— FEMINISA (@afeminisa) August 21, 2020
Quando revelei a identidade do meu agressor pra ele, a única coisa que ouvi foi que ele tinha que “ouvir a versão dele (o agressor) dessa história”.
Foi um dos momentos mais violentos que vivi enquanto reconhecia que (sobre)vivi a violência doméstica.— FEMINISA (@afeminisa) August 21, 2020
Há quase quatro anos desenvolvo um trabalho de formiga na internet, conscientizando mulheres sobre relacionamentos abusivos e as estruturas sociais que os sustentam como norma, especialmente entre casais hetero.
Contabilizo CADA mulher que me diz que a partir disso conseguiu se +— FEMINISA (@afeminisa) August 21, 2020
Mas mais do que tudo: a reconciliação entre vítima e agressor é algo que simplesmente não pode existir.
É o senso de que uma violência é relativa ou perdoável que mantém mulheres em situação de violência doméstica todos os dias.— FEMINISA (@afeminisa) August 21, 2020
Espero de todo o meu coração que por todas as vítimas que sobrevivem a traumas dia após dia, seja feita uma retratação.
Sua música é ótima, você também.
Mas o que vi hoje, é inaceitável. Como sobrevivente: eu não aceito.Com carinho,
Isa.— FEMINISA (@afeminisa) August 21, 2020