Prada é acusada de apropriação cultural por lançar sandália artesanal do Brasil
Grife italiana pagou de descolada vendendo produto do Brasil de R$20 por R$ 4 mil, e virou meme
A Prada comprou uma ‘briga’ daquelas com os brasileiros, e está sendo acusada de apropriação cultural, após compartilhar nas redes sociais o lançamento de uma sandália que é a nossa cara. Isso mesmo! Uma das peças da linha de verão 2020 da grife italiana é aquela rasteira de couro trançada, idêntica às sandálias artesanais de couro vendidas no Nordeste do Brasil.
E a surpresa não parou por aí. Embora o modelo seja muito parecido com o do calçado brasileiro, a diferença de preços entre eles é gritante. Enquanto a rasteirinha aqui nu Brasil não custa nem R$100, o modelo de luxo está sendo vendido por R$ 4.400 (e ainda dá para parcelar em até 12x).
De couro de bezerro, com ferragem dourada, fechamento por fivela, bico arredondado e solado flat de borracha, a sandália da Prada foi comparada também a produtos regionais confeccionados artesanalmente. “No Marrocos, nós temos a mesma sandália”, disse um seguidor. “Se parecem com as do México. Podem ser compradas de fabricantes mais originais e muito mais baratas”, comentou outro.
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Na hora que esta matéria foi publicada, a marca já havia apagado o post no Insta. Porém, o post do Twitter permaneceu no ar e os internautas tiraram muitos prints a tempo de repercutir o assunto nas redes sociais. Confira:
https://twitter.com/camiddt/status/1276311096257699841
Mas o que é apropriação cultural?
Apropriação cultural é quando você adota alguns elementos específicos de uma cultura distinta à sua. Por exemplo, formas de vestir ou adorno pessoal (turbantes, tranças), música e arte, religião, língua ou comportamento social (gírias).
Esses elementos, uma vez removidos de seus contextos culturais, podem assumir significados muito divergentes, ou apenas menos sutis do que aqueles originalmente realizados. Ou seja, uma pessoa branca de dreads pode ser vista como descolada, mas uma pessoa negra com o mesmo penteado é encarada como “suja”.
Apropriação cultural de elementos simbólicos da cultura negra são os mais problemáticos quando observamos o tema.
Isso se dá porque questões relacionadas a racismo são de difícil abordagem em um país como o Brasil, que nega ser racista apesar de ter sido erguido sobre o genocídio, escravização e violenta subordinação de povos negros africanos durante 358 anos – e a manutenção desse grupo em locais marginalizados da sociedade até hoje.
E dentro deste crime perfeito – já que no país “há racismo, mas sem racistas”, como disse o antropólogo Kabengele Munanga para a revista Fórum – como esperar que um tema como a apropriação cultural não gere embates nas redes sociais e exponha, de quebra, a ignorância de boa parte dos brasileiros, especialmente os brancos?
Se é “difícil” para pessoas brancas reconhecerem que são racistas sim, imagina identificarem e se posicionarem sobre casos de apropriação cultural?