TV Cultura encerra produção do programa ‘Manos e Minas’

Apoiadores da cultura periférica estão se manisfestando por meio das hashtags #VoltaManosEMinas e #ManosEMinasRepriseNão 

A cultura nacional democrática acaba de perder um dos programas fundamentais na cena hip hop: por decisão da nova direção da TV Cultura, o “Manos e Minas” foi retirado da grade televisiva a partir de julho.

A Fundação Padre Anchieta (FPA) é comandada por José Roberto Maluf e possuí vínculo com o Governo do Estado de São Paulo, responsável por João Dória.

A notícia foi divulgada pelo produtor musical Valmir Vras em seu canal no YouTube. No vídeo, ele conta que diversos funcionários foram demitidos e que a emissora passará a exibir apenas reprises.

“A única coisa que a gente tinha da periferia de São Paulo na TV era isso. Eu não aguento mais ver essa cena, a gente sempre tem que pedir, a TV Cultura tem que respeitar o movimento hip hop, esse programa já é a voz da perifa e a voz da gente é o que carrega a gente. Todo ano é a mesma fita com o “Manos e Minas”, tá ligado?”, desabafou Vras.

Karol Conká também se manifestou sobre o caso: “Muito triste com a notícia do fim do programa “Manos e Minas”. O único programa (de tv aberta) do Brasil que dava voz à cultura Hip Hop!”

Leia o relato da atual apresentadora do programa, a atriz e poeta Roberta Estrela D’alva:

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Sobre o que está acontecendo com o programa Manos e Minas: Nessa sexta -feira recebi uma convocação para ir até a TV Cultura e lá fui comunicada que não haverá mais nenhuma gravação do programa esse ano. Os contratos de várias pessoas da equipe não foram renovados, inclusive o meu, e o que me foi informado é que depois que os programas já gravados forem todos ao ar (até o meio de agosto) serão exibidas reprises até 2020, quando enfim será decidido o rumo do programa. Sobre o que está acontecendo com o Brasil: O desmonte está em curso, a todo vapor. Novas gestões, velhos padrões. A mentalidade do senhor de escravo é um fantasma que não dorme, e que não enxerga valor humano na subalternidade. A prioridade é financeira, povo é mão de obra e não há interesse em se educar ou ouvir a voz de mão de obra. Gente negra, periférica, homossexual, transexual, surda, mulheres, indígenas, poetas e tudo o que essas pessoas produzem culturalmente não é prioridade. A prioridade é o mercado. Ainda que se envenene a comida. A prioridade é acelerar. Ainda que a humanidade já tenha ficado pra trás e nesse passo não vá chegar a lugar nenhum, a não ser no abismo. Sim, está acontecendo. Mais rápido do que pensávamos e o melhor é que continuemos nos organizando pra pensar em maneiras de juntxs, atravessarmos esses tempos sombrios. Sobre a beleza e o que é indestrutível: Quando eu estava saindo da TV, ouvi alguém chamar meu nome e quando olhei pra ver quem era, veio em minha direção uma menina negra, uma das poucas que trabalham alí naquele ambiente, parou na minha frente, olhou pra mim com uns olhões bem brilhantes e me disse: “Oi Roberta, eu sou a Bárbara, sou estagiária aqui na TV , vc não me conhece mas eu queria te dizer que eu sou muito muito sua fã, gosto muito mesmo do seu trabalho. Você me inspira, eu li seu livro, vi suas peças. Seu caminho está aberto, viu? Seja pra onde for que você cá. Que vc seja muito feliz! Muita luz e quebre a perna! (que é como se deseja sorte pra atores e atrizes)” Me deu um abraço e voltou pra mesa dela. Boa sorte pra você também Bárbara. Eparrey. A luta continua.

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O “Manos e Minas” recheia a TV brasileira desde o ano de 1993, inicialmente como quadro do programa “Metrópolis”, e desde 2008 como programa independente! Em agosto de 2010, o então presidente da Fundação, João Sayad, havia anunciado o fim do programa, que após grande atuação do movimento hip hop voltou a ser produzido.

O assunto rendeu diversos tweets. Olhe só: