Marca cria polêmica após lançar coleção com o tema ‘África’

08/04/2016 12:36 / Atualizado em 07/05/2020 02:52

A marca brasileira HEVP criou polêmica ao lançar nesta semana a nova camiseta de sua coleção, cujo tema é a África. Na foto de divulgação, uma mulher negra posa ao lado de um homem branco, que veste a peça da marca.

Após a publicação da imagem, internautas começaram a criticar o anúncio dizendo que campanhas como esta não se cansam de “usurpar e explorar” o continente e seus moradores.

“Tudo o que [vocês] conseguiram produzir foi uma camisa escrito AF RI CA, tirando toda a individualidade de tais comunidades e colocando a África num pacotinho só ‘do lugar exótico que precisa de ajuda'”, escreveu uma garota no Facebook. “Nós negros aqui no Brasil, somos filhos distantes da África, somos filhos distantes e queremos nos aproximar, realmente conhecer. E o que trouxeram aí foi o mais do mesmo, a visão branca colonizadora de uma África generalizada. Nós, negros, não sabemos as nossas ascendências ao certo, porque isso nos foi tirado. As generalizações já tivemos por muito tempo. Essa AF RI CA que vocês querem nos vender, não aceitamos mais. Não queremos”.

No dia seguinte à polêmica, a marca, que busca fazer transformações sociais através de seus produtos, se pronunciou na rede social. “O trabalho da HEVP, desde o início, visa impactar de forma positiva comunidades ao redor do mundo. Não nos limitamos a doação de roupas ou alimentos. Visitamos e nos envolvemos com as comunidades, disponibilizando nossos esforços para organizações locais, já que essas sabem melhor do que ninguém o que sua região mais precisa”, escreveu.

Confira a publicação na íntegra:

Inicialmente, gostaríamos de nos desculpar com qualquer pessoa que possa, de alguma forma, ter se sentido ofendida com a imagem. Faz parte da nossa filosofia respeitar o próximo e por isso acreditamos que um debate como esse pode gerar reflexões e crescimento. O trabalho da HEVP, desde o início, visa impactar de forma positiva comunidades ao redor do mundo. Não nos limitamos a doação de roupas ou alimentos. Visitamos e nos envolvemos com as comunidades, disponibilizando nossos esforços para organizações locais, já que essas sabem melhor do que ninguém o que sua região mais precisa. A Hevp nunca impôs nada. As mesmas nos revelaram a necessidade de uniformes e de refeições para crianças no Haiti, Brasil, Nepal e Quênia. Também nos deram a ideia de produzir localmente os uniformes de doação, assim geraríamos renda local. E então, o fizemos mesmo que isso envolvesse mais esforços da nossa parte. No Nepal produzimos uniformes em uma fábrica local onde os funcionários ganham 800 dólares por mês (muito mais que a média do país); já no Quênia, quem está fazendo os uniformes são mulheres excluídas da sociedade que fazem parte de uma ONG que as treinam e capacitam para a costura; no Haiti a Hevp está alocando os esforções na capacitação de mulheres que não conseguem emprego por lá, e que fazem parte de um projeto de alfabetização de adultos. Os uniformes que serão feitos no Quênia e Haiti também serão doados no local. Nós mantemos contato com todos nossos parceiros locais e tentamos nos adaptar ao que eles precisam. Hoje, são mais de 1766 uniformes doados em 4 países diferentes e 7360 refeições doadas para crianças na escola no Quênia. Em nenhum momento tivemos a intenção de tirar proveito de lugares e pessoas que são, na verdade, o que nos move. A HEVP nasceu de causas e ideais bem definidos e não abriremos mão disso. A escolha das comunidades a serem atendidas são baseadas em questões sociais e não raciais – porém sabemos que infelizmente, por questões históricas, as duas categorias muitas vezes acabam se fundindo. Pedimos sinceras desculpas para as pessoas que possam ter se ofendido com a imagem, mas garantimos que a nossa intenção envolve questões que vão muito além da cor da pele. Nosso processo de fabricação, dos produtos de venda, é feito no Brasil e fazemos questão de acompanhá-lo de perto, podendo afirmar que o mesmo envolve reaproveitamento de água e cumprimento das leis de trabalho. Respondendo aos questionamentos que dizem respeito às imagens presentes em nossas estampas, vale ressaltar que todas as pessoas que, de alguma forma, integram nossas coleções estão cientes e de acordo com isso, sem exceção. Inclusive, fazemos questão de manter contato com eles, estabelecendo um vínculo e um relacionamento verdadeiro. Incentivamos o conhecimento de novas culturas e pensamentos e acreditamos que ainda há muito mais o que aprender. Portanto, agradecemos a oportunidade de nos depararmos com novos pontos de vista e reiteramos nossos pedidos de desculpas. Espero que tenhamos esclarecido os questionamentos que surgiram por aqui e nos posicionamos de forma completamente aberta e transparente para responder quaisquer dúvidas que possam aparecer. Sabemos que ainda há muito para ser feito e temos o compromisso de garantir sinceridade em cada etapa desse processo.