Afinal, para que ‘serve’ a literatura infantil?

20/10/2016 13:17

Para o escritor e ilustrador André Neves, “para aproximar o leitor da fantasia”. O autor pernambucano defende a ‘literatura para a infância’, que amplia e questiona o que hoje entendemos por “literatura infantil”. Para ele, livros para a infância são aqueles que atingem e encantam não só as crianças, mas também a infância que habita cada adulto.

Prestes a lançar seu novo livro, “NUNO e as coisas incríveis“, André pratica em suas obras o exercício constante de lembrar que encantamento é disposição, e por isso faz histórias que oferecem um olhar renovado sobre coisas do cotidiano, que muitas vezes o olhar ‘adulto’ deixa de observar. São livros sem rótulos para infâncias sem idade. Por isso, quando questionado para que, afinal, serve a literatura para crianças, ele responde sem pestanejar que a finalidade é a fantasia, a imaginação, o devaneio.

Fazer com que o leitor na imaginação seria um dos motivos de literatura dita ‘para crianças’ funcionar também com os adultos.
Fazer com que o leitor na imaginação seria um dos motivos de literatura dita ‘para crianças’ funcionar também com os adultos.

Para o autor, o conceito de “literatura infantil” que temos hoje é superficial. “O que está raso na ideia de literatura para crianças é alguns livros serem classificados estritamente como meramente ‘infantis’, mesmo quando muitos deles carregam uma potência de percepção da infância dos adultos”, explica o autor, que inaugura uma exposição inédita em São Paulo neste sábado, 22 de outubro, em que vai justamente propor ao visitante que conheça as muitas possibilidades do gênero a partir de uma imersão pela materialização de cenários e personagens literários. Clique aqui para saber mais sobre a mostra.

‘Ler’ uma imagem é tão importante quanto ler um texto

O livro "NUNO e as coisas incríveis conta a história de um menino sensível que recria o significado das coisas com a imaginação e a observação das coisas que o cercam.
O livro “NUNO e as coisas incríveis” conta a história de um menino sensível que recria o significado das coisas com a imaginação e a observação das coisas que o cercam.

O mecanismo que o autor utiliza para atingir essa aproximação com a fantasia é mesclar a narrativa visual com o texto. A história não fica só nas palavras e transborda para as imagens e para os muitos espaços em branco, exigindo do leitor a sensibilidade de colocar-se à disposição da imaginação. Isso faz com que não só as crianças se encantem com a história, mas também que os adultos encontrem nela uma oportunidade de resgatar o gosto pela imaginação.

Segundo ele, a intenção de suas obras é fazer com que o leitor, independentemente de sua idade, alcance com a imagem os mesmos recursos de pensamento que ele alcança quando lê as palavras, e destaca a a importância de nos alfabetizarmos para a leitura visual. “No caso da criança, é mais fácil que para o adulto. A criança está mais liberta pra ler uma imagem, o adulto é que ainda não sabe como mediar essa leitura”, aponta.