Atriz estuprada em ‘Dois Irmãos’ sofreu abuso sexual na vida real
A atriz Zahy Guajajara, indígena maranhense de 27 anos, encarou um grande desafio ao viver sua primeira personagem em uma minissérie da TV Globo, a “Dois Irmãos”.
Dirigida por Luiz Fernando Carvalho, a trama é baseada no livro de Milton Hatoum, uma obra ambientada em Manaus entre os anos 1920 e 1980.
Na minissérie, que estreou na segunda-feira, dia 9, ela vive Domingas, uma indígena que é estuprada. Para fazer as cenas do abuso, ela relembrou tristes memórias pessoais: a atriz já sofreu abuso sexual e precisou de muita concentração para concluir a cena.
“Foram as cenas mais difíceis de fazer, porque eu passei por coisa parecida na minha vida. Por outro lado, isso me libertou. [A cena de assédio] não foi repetida, eu estava sofrendo tanto que Luiz [Fernando Carvalho, diretor artístico] me poupou. Lembro que, antes de começar a gravar, eu entrava no mato, me ajoelhava, chorava, batia no chão. Fiz meu ritual para poder seguir. Mexeu com meu sentimento, parece que eu passei por isso para poder fazer essa cena. Foi uma coisa maluca, bem forte para mim”, revela em reportagem da UOL.
Na obra, Domingas é uma órfã que foi tirada de sua tribo e recolhida em um convento. Ela chega ao sobrado de Halim ainda criança para ajudar Zana nas tarefas domésticas e vive calada pelos cantos. Muitos anos mais tarde, ela dá à luz Nael, sem ser questionada sobre a paternidade da criança.
Além dela, as atrizes Sandra Paramirim e Silvia Nobre também interpretam Domingas em outros momentos da vida da personagem. “Domingas é uma indígena. Ela representa não só os indígenas, mas a minoria, os menos favorecidos, uma mulher do qual não teve escolhas”, explicou a maranhense em uma rede social.
Na cena exibida no capítulo de terça-feira, dia 10, Domingas não aparece sendo violentada. Após ser assediada por Omar, ela surge com as roupas rasgadas e chorando enquanto se lavava. No capítulo desta quarta, dia 11, nascerá seu filho, Nael, o narrador da história.
De acordo com o último censo do IBGE, de 2010, a população indígena no Brasil soma 896 mil pessoas.
“É difícil ter uma carreira sólida. Tem muitos papéis de índios, mas chamam atores que se parecem, não dão muita oportunidade para índios atuarem. Eu adoro fazer papéis de indígena, mas não quero estar presa a isso. Hoje temos índios em diversas profissões, então por que não posso fazer um papel de advogada, professora? Conheço artistas indígenas que são muito capazes, mas não têm oportunidade de mostrar quão bons eles são. Precisamos de pessoas que acreditem e confiem em nós, que nos deem valor do jeito que somos”, declara a atriz.