Bilhete ajuda jovem a encontrar pais biológicos após 20 anos

O casal chinês Xu Lida e Qian Fenxiang passou 20 anos se perguntando o que teria sido da segunda filha, abandonada ainda bebê devido à política do filho único, que vigorou por quatro décadas na China, até ser extinta em outubro de 2015.

Os dois já tinham uma menina e não tinham condições financeiras para arcar com as punições que o governo impunha a quem tivesse um segundo bebê, como o pagamento de multas e até aborto forçado, como aponta matéria da BBC Brasil.

“Na manhã do terceiro dia após seu nascimento, eu preparei leite, a segurei, abracei por um tempo. Então, caminhei até o mercado. Ela estava dormindo. Dei um beijo nela, aí me afastei” relata Xu, o pai biológico.

O bilhete

A menina foi encontrada logo depois por transeuntes e levada a um orfanato. Com ela havia um bilhete dirigido a quem a acolhesse.

Um ano depois, o casal americano Ken e Ruth Pohle adotou a bebê, a quem deram o nome de Kati.

Casal americano Ken e Ruth Pohle adotou a bebê, a quem deram o nome de Kati

“O orfanato nos deu um documento escrito em chinês… Era uma mensagem dos pais biológicos para os pais adotivos. Dizia que eles estavam entregando a filha não porque queriam, mas por causa de como as coisas estavam na China naquele momento”, diz Ken Pohler.

A mensagem propunha um reencontro, que demorou duas décadas para acontecer:

“Minha filhinha nasceu em 1995, de manhã, em Suzhou. Por causa da pobreza e de outros problemas, não tivemos outra escolha senão abandonar nossa filha na rua. Se vocês tiverem simpatia por nós, pais, por favor, nos encontrem na Broken Bridge (Ponte Quebrada), em Hangzhou, daqui a dez ou vinte anos”.

A ponte em questão é um local onde, tradicionalmente, famílias e entes queridos se reúnem no dia 7 de julho de cada ano.

Xu, diz ter proposto o encontro para quando a filha fosse um pouco maior por não acreditar que os pais adotivos deixariam uma criança pequena encontrá-los.

Passados dez anos, a primeira tentativa de encontro falhou. Ken e Ruth não podiam ir ao local, mas mandaram uma mensageira, que se atrasou, mas aproveitou a presença de uma emissora de TV para falar sobre a história.

Pouco depois Xu e Qian deram uma entrevista à um canal chinês, a repercussão foi tanta que assustou Ken e Ruth, que por medo de expor ou perder a filha, preferiram não revelar a ela sua história.

Foi só ao completar 20 anos, em 2016, que Kati questionou mais profundamente os pais sobre suas origens, pois lembrava de ter visto algo escrito em mandarim em algum momento.

“Eu entendo a lógica deles, mas acho que é uma lógica ruim. Eles diziam: ‘Queríamos ter certeza de que você estava pronta e blá-blá-blá. Mas acho que você nunca estará preparado para isso”, rebate Kati.

Foi quando ela decidiu ir à China para o encontro marcado há tanto tempo.

O momento em que a família se conhece foi registrado pelo cineasta Changfu Chang, que já acompanhava a história.

“Eu sei que meus pais adotivos me amam, agora tenho todo esse novo amor que eu nem sabia que existia, mas que sempre esteve aí”, disse Kati. Leia a matéria completa e veja as cenas do reencontro aqui.

Veja outros reencontros emocionantes: