Estudantes organizam ato contra estupros e violência na USP
O número de casos de estupro e machismo na Universidade de São Paulo (USP) cresceu desde o ano passado, e essa é uma realidade cada vez mais frequente dentro do campus. A maioria deles, no entanto, não obteve resposta eficaz da reitoria e as mulheres seguem sob constante risco na universidade.
Mais recentemente, o blog “Tio Astolfo” lançou um “guia” de como estuprar uma mulher da FFLCH-USP, o que gerou revolta nas redes sociais e entre as alunas para denunciar a página imediatamente. Ao se pronunciarem sobre o site, os coletivos feministas da USP receberam ameaças de estupro coletivo.
Diante dessa grave situação, estudantes e trabalhadoras decidiram organizar um ato para lutar contra a “cultura do estupro” e a violência de gênero na universidade, que acontece na próxima segunda-feira, dia 24 de agosto.
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O protesto foi pensado na última plenária sobre segurança no campus, no dia 17 de agosto, em que mulheres do movimento estudantil da USP auto-organizadas propuseram se unir mais uma vez contra os estupros e a violência de gênero na universidade.
De acordo com Bruna Fernandes, 21 anos, aluna do segundo ano da letras e militante do coletivo feminista Marias Baderna, o ato pede que o blog “Tio Astolfo” saia do ar e que o responsável seja punido, além de mostrar a posição contrária das alunas às medidas ineficazes que a reitoria tem oferecido em resposta aos estupros dentro da instituição.
No evento criado pelo Facebook para divulgar o protesto, o manifesto reivindica, entre outras coisas, um plano de segurança que envolva os pedidos das estudantes e trabalhadoras, com mais ônibus circulares no período noturno e campanhas de prevenção e combate à violência contra as mulheres.
“As medidas para proteção das mulheres na universidade tanto podem ser simples, como a poda das árvores e mais iluminação no campus, quanto mais elaboradas, como a criação de um centro de referência à mulher, que conte com assistência médica, psicológica e jurídica às vítimas”, completa Bruna, que também é integrante do Movimento Mulheres em Luta e da Frente Feminista da USP.
No final do ano passado, foi organizado o Encontro de Mulheres Estudantes da USP, no qual elas elaboraram uma carta de reivindicações, protocolada em dezembro, que foi negligenciada pela reitoria. Por isso, com o ato da próxima semana, as jovens lutam novamente para que as medidas solicitadas sejam colocadas em prática.
Depois dos relatos de casos de violência contra as mulheres, a reitoria propôs aumentar a presença da Polícia Militar na universidade, proibir ainda mais as festas estudantis e aderir ao programa “He For She” da ONU Mulheres.
A estudante de letras diz que, na opinião dos coletivos, “a Polícia Militar nunca cumpriu o papel de trazer segurança às mulheres, principalmente no que tange as mulheres negras. Desde 2011, quando o convênio da USP com a PM foi firmado, os casos de estupro não apenas não diminuíram, como inclusive aumentaram”.
“A proibição das festas e dos espaços estudantis também não soluciona o problema dos estupros, uma vez que a culpa disso é do machismo naturalizado na sociedade e, consequentemente, dentro da universidade. Já o programa ‘He For She’ da ONU Mulheres não apenas escamoteia e tira do foco a luta das mulheres contra o machismo, como também é aplicado por um dos maiores braços do imperialismo mundial (a ONU), que se utiliza do machismo para superexplorar mulheres mundo afora”, finaliza a jovem.
Com a frase “Somos muitas, estamos organizadas e somos fortes!”, o movimento convoca todas as mulheres estudantes e trabalhadoras da universidade para se unirem na próxima segunda-feira para fortalecer a causa e lutar contra os casos de violência e machismo dentro e fora da universidade.
Serviço – Ato pela segurança das mulheres na USP
Data: 24 de agosto (segunda-feira)
Local: Universidade de São Paulo
Programação:
12h – Oficinas no bandejão central;
16h – Concentração em frente à Reitoria para o ato;
17h – Saída para o ato.
Veja como denunciar a violência
No Brasil há um número específico para receber esse tipo de denúncia,180, a Central de Atendimento à Mulher. O serviço funciona 24 horas por dia, todos os dias do ano e a ligação é gratuita. Há atendentes capacitados em questões de gênero, políticas públicas para as mulheres, nas orientações sobre o enfrentamento à violência e, principalmente, na forma de receber a denúncia e acolher as mulheres.
O Conselho Nacional de Justiça do Brasil recomenda ainda que as mulheres que sofram algum tipo de violência procurem uma delegacia, de preferência as Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAM), também chamadas de Delegacias da Mulher. Há também os serviços que funcionam em hospitais e universidades e que oferecem atendimento médico, assistência psicossocial e orientação jurídica.
A mulher que sofreu violência pode ainda procurar ajuda nas Defensorias Públicas e Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, nos Conselhos Estaduais dos Direitos das Mulheres e nos centros de referência de atendimento a mulheres.
Se for registrar a ocorrência na delegacia, é importante contar tudo em detalhes e levar testemunhas, se houver, ou indicar o nome e endereço delas. Se a mulher achar que a sua vida ou a de seus familiares (filhos, pais etc.) está em risco, ela pode também procurar ajuda em serviços que mantêm casas-abrigo, que são moradias em local secreto onde a mulher e os filhos podem ficar afastados do agressor.