Estudo: os impactos do desastre em Mariana na saúde da população

A pesquisa foi realizada pelo Instituto Saúde e Sustentabilidade

Em novembro de 2015, o rompimento da barragem de rejeitos da mineradora Samarco – controlada pelas empresas Vale e BHP Billiton – trouxe inúmeros impactos, diretos ou indiretos, aos moradores das regiões atingidas pela lama.

Além dos danos ambientais, a destruição da bacia do Rio Doce prejudicou a saúde física e psíquica da população, problemas que persistem após 1 ano e 6 meses do desastre em Mariana, Minas Gerais.

Para analisar essas e outras questões, o Instituto Saúde e Sustentabilidade (ISS) realizou o estudo “Avaliação dos Riscos em Saúde da População afetada pelo Desastre de Mariana“.

A tragédia em Mariana trouxe impactos ambientais e também para a saúde da população

O material é o primeiro a ser divulgado de uma série de pesquisas que incluem mais cinco áreas: Água, Fauna, Flora, Impactos Sociais e Direitos Humanos. Todas são conduzidas por pesquisadores de universidades e institutos brasileiros, e financiadas com doações captadas pelo Rio de Gente e gerenciadas pelo Greenpeace.

Entre os problemas mais recorrentes ou percebidos até o momento pelas pessoas, estão os respiratórios, de pele, dengue e emocionais. No entanto, os impactos devem ir além, pois doenças crônicas poderão se desenvolver ou se agravar a médio e longo prazo.

Com o objetivo de avaliar o impacto do desastre, os especialistas consideraram os efeitos na saúde em três fases:

  • Resgate, com os efeitos mais agudos, momentâneos e entre minutos, horas e dias, como acidentes, afogamentos, lesões ou óbitos;
  • Recuperação, entre semanas e meses, como as doenças infecciosas, transmissíveis por vetores ou não, como dengue, hepatite A, diarreia, intoxicações, lesões de pele, doenças respiratórias, exacerbação de doenças crônicas;
  • Reconstrução, sintomas que surgem entre meses e anos, como as doenças comportamentais, psicológicas e mentais. Soma-se a estes efeitos a preocupação adicional da exposição à lama tóxica, seja por inalação, contato com a pele ou até por ingestão.

Barra Longa

Sofya, de apenas dois anos, vive com crises alérgicas de pele e problemas respiratórios desde que a lama chegou ao distrito de Barra Longa. De acordo com a mãe da criança, Simone Silva, até hoje sua filha não é considerada atingida pela empresa responsável.

“Continuamos sem assistência da Samarco e da Renova (fundação criada para reparar danos causados pelo desastre). Já estou no segundo ano de luta para que a Sofya tenha direito ao cartão para fazer o tratamento de saúde”, afirma a moradora.

Simone conta que, mesmo com o laudo que comprova as doenças da filha, as empresas pediram para ela procurar o Sistema Único de Saúde (SUS), onde não há o tratamento e os medicamentos necessários.

Assim como Sofya, outras crianças e adultos do distrito sofrem as consequências do rompimento da barragem por causa do contato com o pó da lama seca.

Simone e Sofya durante manifestação em evento de 1 ano da tragédia

Os moradores de Barra Longa foram escolhidos para a pesquisa em função do município ser considerado um dos piores em situação. A poluição do ar pode ter sido agravada pelos blocos de lama seca produzidos pela Samarco para a repavimentação das ruas destruídas.

O levantamento ouviu 289 famílias e seus 576 membros do distrito, de uma população de quase 6 mil habitantes, calculados de forma estatística e sorteados a partir da lista das famílias do Programa Social de Família da Secretaria Municipal de Saúde de Barra Longa.

Para realizar o estudo, os participantes responderam um questionário e entrevistas sobre os sintomas que vêm sentindo depois do desastre; 35% deles afirmaram que a saúde piorou desde então.

No total, 40% dos problemas relatados são respiratórios; 15,8% afecções de pele; 11% transtornos mentais e comportamentais; 6,8% doenças infecciosas; 6,3% de doenças do olho; e 3,1% problemas gástricos e intestinais. Em relação às crianças de até 13 anos, as doenças respiratórias são 60% das queixas.

O Catraca Livre tentou entrar em contato com a Fundação Renova, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.

Leia o estudo na íntegra neste link.

  • Após um ano da tragédia em Mariana (MG), a reportagem esteve nos distritos atingidos e conversou com os moradores. Leia o texto: