Greve dos caminhoneiros: o que está em jogo e como parou o Brasil
Após reunião com o governo federal nesta quarta-feira, 23, o presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (ABCam), José da Fonseca Lopes, um dos líderes do movimento, resumiu o que, fundamentalmente, motivou cerca de 400 mil motoristas a iniciarem uma greve dos caminhoneiros e pararem o país desde a última segunda-feira, 21. “O caminhoneiro está vendendo o almoço para comprar a janta. Ele pega um frete de R$ 1.000, só de óleo diesel já vai R$ 420, mais o pedágio. Sabe quanto sobra? Só R$ 200. Trabalhar para ganhar R$ 200 com família [para sustentar] não dá “.
Nos últimos 12 meses, o preço médio da gasolina aumentou 18%. E desde o fim do ano passado, o valor deste combustível está acima dos R$ 4 em uma escalada de preços que, neste mês, chegou a R$ 4,28 para a gasolina e R$ 3,59 para o diesel. A variação se deve a dois fatores: o aumento do dólar e a cotação do petróleo.
Neste cenário de instabilidade econômica, os transportadores autônomos decidiram reivindicar a isenção total dos impostos federais que impactam no aumento dos combustíveis. Inclui-se nesta demanda a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), que o governo já se comprometeu a eliminar sobre o preço do diesel, PIS/Pasep e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins).
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Isso porque, no preço final da gasolina, os tributos federais representam cerca de 16%. No caso do diesel, os impostos somam 13% do valor vendido. Sem estas cobranças, haveria uma redução média de R$ 0,60 por litro de combustível, segundo a categoria. “O grande problema que o país está atravessando, não só com o caminhoneiro, é o problema do combustível. Tá muito caro, aumenta a cada dia. No caso do transportador autônomo, tem que tirar os penduricalhos, que são o PIS/Cofins e a Cide [impostos]”, ressaltou Lopes.
Categoria critica política de preços
Além dos tributos federais, os caminhoneiros também questionam a atual política de preços dos combustíveis que, nos últimos meses, sofreu reajustes diários. Isso se deve aos recentes critérios adotados pela Petrobras que, desde julho do ano passado, passou a levar em conta a flutuação do câmbio e do preço do petróleo no mercado internacional _ sem qualquer intervenção do governo federal, que, em 2016, mudou a política de preços e ajudou a empresa a recuperar valor de mercado.
Atualizando [às 17h40]: em nota, a Associação dos Engenheiros da Petrobras reforçou seu posicionamento contrário à política de preços adotada pela empresa.
No texto, o grupo alega que, com a postura adotada em 2016, os únicos beneficiados foram os investidores norte-americanos. “Ganharam os produtores norte-americanos, os “traders” multinacionais, os importadores e distribuidores de capital privado no Brasil. Perderam os consumidores brasileiros, a Petrobrás, a União e os estados federados com os impactos recessivos e na arrecadação. Batizamos essa política de “America first! ”, “Os Estados Unidos primeiro!”. Confira a nota publicada pelos funcionários na íntegra.
Enquanto a greve dos caminhoneiros chega ao quarto dia, nas estradas do Brasil o número de adesão à paralisação ganha força entre os caminhoneiros e apoio de outros setores profissionais. Neste sábado, 26, o Sindicato dos Estivadores de Santos deve marcar assembleia para discutir a proposta de apoio à greve.
Segundo a associação de caminhoneiros, só está permitida a passagem pelos bloqueios do transporte de produtos perecíveis, carga viva, medicamentos e oxigênio hospitalar. “Se até sexta-feira não acontecer nada, aí lamentavelmente vai parar tudo. Não vai funcionar mais nada”, assegurou Fonseca Lopes. A associação é representada cerca de 700 mil caminhoneiros, 60 sindicatos e 7 federações.
Desde a última segunda-feira, 21, cerca de 200 mil caminhoneiros deram início ao movimento que hoje, com o dobro de adesões (400 mil), pararam o Brasil. Ao todo, há há 270 bloqueios em rodovias de 22 estados _ com exceção de Roraima, Amazonas, Amapá, Acre e Rio Grande do Sul.
A paralisação já provoca desabastecimento de mercadorias, combustíveis para postos de gasolina e aeroportos, circulação de transporte público, além do congestionamento em importantes rodovias.
Nova reunião nesta quinta-feira
O governo chegou a pedir uma trégua de três dias aos caminhoneiros, mas o prazo acordado foi até a próxima sexta-feira (25), sem interrupção do movimento. Uma nova reunião entre governo e representantes dos transportadores está marcada para amanhã (24), às 14h, no Palácio do Planalto.
Apesar disso, a decisão depende da diretoria da Petrobras, que não pretende mudar a atual política de preços./Com informações da Agência Brasil e do portal G1
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