Qual é o perigo de dizer a uma criança ‘Não pode, é perigoso’?

“Não faça isso! Tenha cuidado! Não corra! Desça daí! Não pegue isso! Venha aqui!”, frases comuns aos ouvidos de qualquer criança. Mas, qual é o limite entre a precaução e a proteção excessiva? Em artigo publicado no site Conexão Planeta, a pesquisadora do Projeto Criança e Natureza Maria Isabel Amando de Barros discute o tema à luz da importância do brincar livre na natureza.

Na opinião dela, na tentativa de proteger as crianças de machucados e acidentes, acaba-se privando os pequenos de um contato pleno com o meio natural, o que proporciona a possibilidade de descobertas fundamentais ao desenvolvimento infantil.

“Para as crianças, a conquista do movimento corporal é seu grande desafio e meio de apreender o mundo nos primeiros anos de vida. Assistir a uma criança aprender a correr, escalar e pular, desejando ir mais longe e mais alto a cada dia, é assistir de camarote à força da vida em uma de suas formas mais autênticas. E isso exige lidar com uma certa dose de risco”, diz ela.

Qual é a importância de correr riscos?
Qual é a importância de correr riscos?

No texto, Isabel aponta como exemplo a estrutura física de muitas escolas, “quase sempre apertados e repletos de brinquedos plásticos baixos, grama artificial e areia colorida. Em muitos casos, não há a possibilidade de subir, escalar ou correr – para que não haja risco algum”.

Ambientes artificiais, como os descritos acima, eliminam o perigo e mantém o risco previsível. O oposto acontece ambientes naturais. “Espinhos, escorregões ou uma picada de formiga dificilmente acometerão as crianças nos ambientes estéreis que criamos para elas, mas está justamente na ausência destas e de outras possibilidades a perda da experiência direta e, consequentemente, a perda da conexão sensível com o mundo natural’, a autora cita, no texto, afirmação é de Heloísa Bruhns, em seu livro Esporte e Natureza, publicado em 2000.

Nesse sentido, o papel de pais e educadores nessa mediação com o mundo seria o de proporcionar experiências adequadas às crianças, tanto em termos de dificuldade e progressão, quanto em termos de riscos reais e percebidos.

“É nosso dever deixá-las perceber quais limites estão aptas a transpor e incentivá-las a ir adiante sempre que quiserem. As crianças são seres capazes de ouvir o que lhes diz seu corpo ante um desafio, e a sua apreensão de habilidades como confiança, autonomia e resiliência é muito mais rica quando a decisão de empreendê-lo for própria e não do adulto. Nesse caminho, passo a passo, poderão se tornar adultos mais preparados e equipados para os riscos e desafios que a vida oferece”, afirma.

Com informações de Conexão Planeta.