Maternidade: ‘você não vai mudar o mundo se sentindo uma droga’
Nana Queiroz é escritora, colunista do Jornal Metrópoles, repórter da Revista AzMina e ativista feminista. Há alguns meses, é também mãe. Grávida do primeiro filho, ela publicou em seu Facebook, nesta quarta-feira, um relato sobre o que tem vivenciado nesses primeiros momentos de mulher gestante, e manda um recado fundamental para todas as mulheres: lidar com a culpa é imperativo.
“Tem sido um pesadelo”, ela alerta logo no começo do depoimento. Porém, ao contrário do que muito alerta publicidade do universo materno, o desafio maior dos meses de gravidez não é físico/biológico. As transformações maiores são internas e muitas vezes invisíveis.
“O sofrimento mais difícil de lidar não foram as náuseas constantes, o vômito, o nojo da comida, o empanturramento, a prisão de ventre severa, a insônia de noite e sono constante de dia ou a instabilidade emocional. O pior foi lidar com a culpa de não ser uma grávida iluminada apaixonada pela minha barriga. Como se isso me fizesse, já de cara, um embrião de mãe pior, deficiente”, ela conta.
Nana defende encontrar um equilíbrio entre o discurso “gravidez não é doença” e o extremo disso, que facilmente pode recair em interpretar como “frescura” toda e qualquer necessidade que a mulher possa ter.
“Sou completamente contra essa leitura de que gravidez é doença. Isso porque ela justifica que muita gente controle a liberdade de ir e vir das gestantes, nos infantilize a trate como coitadinha. Mas é preciso saber que gravidez traz, sim, vez ou outra, limitações e sintomas de doença. Te deixa mais vulnerável a enfermidades, inclusive, pois seu sistema imunológico, neste comecinho, está focado em proteger o bebê”, explica.
Em sua experiência individual, a gravidez trouxe um menor rendimento no trabalho, suscetibilidade emocional e até algumas crises de pânico. Experiências novas e desconhecidas para mulheres que estão acostumadas a uma vida ativa, que devem ser encaradas com um certo distanciamento prático: “Você não vai mudar o mundo se sentindo uma droga. Vai dormir e volta quando estiver de novo achando que o mundo vale ser salvo”, foi o conselho que a escritora ouviu de uma das pessoas de sua rede apoio.
“Não quero que me olhem como uma incapacitada. Me nego a isso. Mas é preciso compaixão para entender quando a gravidez traz alguma doença ou limitação. E o mercado de trabalho tem que entender que uma grávida descansada é uma funcionária melhor. E é uma pessoa que presta um serviço à sociedade ao renovar os pagadores de impostos que sustentarão nossa aposentadoria. Isso não é romantismo, é mercado!”.
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