Restaurante é especializado em restos de comida

Reveja seus conceitos sobre o “resto” dos alimentos
Créditos: Photographer:Arkady Chubykin
Reveja seus conceitos sobre o “resto” dos alimentos

Macarrão vegetariano, jambalaya de frango, feijões mexicanos. Cardápio de um restaurante? Sim. Preparado por um superchef? Também. Com preços gourmetizados? Não.

Todos esses pratos são gratuitos. Ou, se o cliente preferir e puder, trocados por quantias simbólicas, na cidade de Leeds, no norte da Inglaterra, onde um projeto de interceptação alternativa de alimentos atende por ano cerca de 10 mil pessoas com 20 toneladas de ingredientes que seriam jogados… no lixo. Sim, no lixo.

Quer entender melhor o conceito do Real Junk Food? A gente conta tudinho neste post.

Confira:

Os pratos são criados com produtos vencidos, mas com partes aproveitáveis: frutas, verduras ou legumes com aparência não adequada aos olhos dos estabelecimentos mais exigentes; enlatados altamente comestíveis que por algum outro motivo alimentariam lixeiras, e não estômagos… Tudo passando, claro, por um processo de avaliação de qualidade, além de aprovação sanitária.

Em outras palavras, são materiais alimentícios que, todos os anos, poderiam fazer parte do montante de 1,3 bilhão de toneladas desperdiçadas ao redor do mundo enquanto 850 milhões de pessoas passam fome.

O projeto Real Junk Food começou quase ao acaso há alguns anos, como conta o chef Adam Smith, idealizador da iniciativa ao lado da namorada, a brasileira Johanna Hewitt.

“Nós estávamos viajando pela Austrália quando percebemos comida ser jogada fora em escala astronômica. Vimos toneladas de baunilha e damasco em perfeitas condições e totalmente consumíveis sendo descartadas e utilizadas para alimentar porcos na vizinhança. Era um ato de desespero porque supermercados locais haviam cancelado contratos em cima da hora. Mas não eliminava o fato de que humanos poderiam matar a fome com aquilo”, explica Smith.

Dois desses humanos foram ele e a namorada, que, com orçamento limitado, interceptaram algumas frutas e as comeram cruas. “Estavam excelentes. E foi aí que caiu a ficha: aquilo era apenas uma pequena porcentagem do que era desperdiçado no mundo inteiro”, completa o chef, que trabalhou ao longo de quase uma década em grandes restaurantes do planeta.

O choque os levou à grande ideia e meses depois o café Pay What You Feel (Pague o que puder, em tradução livre) estava aberto. Um restaurante de restos de comida.

O Real Junk Food tem como princípio o fato de que 10 toneladas de alimentos prestes a parar no lixo têm potencial de reaproveitamento capaz de produzir 400 refeições completas. Exatamente por isso, seja por doações ou interceptações de voluntários junto a supermercados e restaurantes, o projeto recolhe ingredientes que não serão utilizados e compõe cardápio diário a preços populares – ou mesmo gratuitos, se for o caso.

Smith faz questão de frisar que qualquer pessoa pode se alimentar no local, independentemente da classe social. E é esta tamanha liberdade que estimula doações capazes de manter o Pay What You Feel – cerca de US$2,42 por visitante fora da linha de vulnerabilidade social.

Com isso, o local aberto em dezembro de 2013 comemora média de atendimento de 10 mil pessoas por ano com a ajuda de colaboradores que se dispõe a tirar algumas horas do dia em nome da iniciativa.

A princípio, a ação funcionava apenas uma vez por semana, mas deu tão certo que agora conta com auxílio e ofertas suficientes para distribuir alimentos todos os dias a partir de 9h.

O conceito do Real Junk Food com reutilização de restos de comida soa interessante, mas algo semelhante a ele encontra barreiras legais no Brasil. Por aqui, caso um produto doado cause qualquer tipo de problema ao receptor, supermercados e restaurantes são responsabilizados judicialmente – algo que pode inibir as doações ou o reaproveitamento de produtos.

O Projeto de Lei n°4747 – também conhecido como Lei do Bom Samaritano – está no Congresso desde 1998 e aguarda discussões com a promessa de quebrar essa barreira, facilitando a criação de bancos de alimentos. No entanto, não há qualquer previsão de que seja votado.

E você, o que achou da ideia? Acha que um restaurante assim daria certo no país? Deixe suas opiniões nos comentários e até a próxima!