Os bairros de Lima contados por seus premiados restaurantes
De Miraflores a Barranco, capital peruana reúne um vasto roteiro gastronômico
Em outubro, a prestigiada revista britânica “Restaurant” publicou sua esperada lista anual com os 50 melhores restaurantes da América Latina, mantendo a tendência de premiar restaurantes de Lima, a capital do Peru. Nos últimos anos, a cidade se tornou um dos principais destinos gastronômicos do mundo por causa dos reconhecimentos da publicação.
A lista dos 50 melhores restaurantes latino-americanos tem dez estabelecimentos peruanos, nove argentinos, oito brasileiros e quatro chilenos. No Peru, todos os estabelecimentos ficam localizados em diferentes regiões da sua capital: do nobre bairro de Miraflores, onde está o primeiro lugar da lista, o Maido, passando pela movimentada San Isidro, onde se situa o Astrid y Gastón, até o boêmio Barranco, local do Isolina.
O campeão da edição de 2017 fica entre as ruas Colón e San Martín, no conhecido bairro de Miraflores, uma das regiões mais ricas de todo o Peru e que reúne a maioria dos melhores restaurantes da capital peruana. Ali, também estão o Central (2º da lista da “Restaurant”), o Rafael (24º) e o Fiesta (46º). A maior distância entre eles é de 1 km –entre o Fiesta, na avenida Reducto, e o Rafael, na mesma rua San Martín, formando um “quarteirão gastronômico”.
O distrito de Miraflores carrega consigo um conjunto de símbolos da história peruana: na região, viveram alguns dos primeiros indígenas da cultura lima, séculos antes da invasão espanhola, assim como foi ali que aconteceu a chamada Batalha de Miraflores, em 1881, onde as forças armadas chilenas venceram os soldados peruanos e invadiram Lima na Guerra do Pacífico, no final do século 19.
Hoje, os turistas costumam se hospedar em Miraflores não apenas pela sua vida agitada –repleta de shoppings, bares, lojas e, claro, restaurantes–, mas também pelos seus atrativos turísticos. É na região que está localizada a Huaca Pucllana, um sítio arqueológico encravado no meio da cidade e que conta boa parte da cultura lima, e onde se situa também o Museu Sitio, que relata a história do conflito entre peruanos e chilenos na guerra.
Os restaurantes, vale dizer, são variados: o Maido serve receitas influenciadas pelas comidas japonesa e peruana, o Central explora os ingredientes autênticos do país, o Rafael é de cozinha contemporânea e o Fiesta também oferece comida típica do país.
Além disso, o bairro ficou mundialmente famoso por sua presença constante nas obras do escritor peruano Mario Vargas Llosa, Prêmio Nobel de Literatura em 2010. Há até um roteiro organizado pela administração do distrito de Miraflores por lugares da vida e da obra de Llosa, como o Parque Kennedy, onde relata sua adolescência.
“Miraflores seria nossa Copacabana. Tem rico, pobre, jovem, idoso, famílias centenárias e turistas, quitinetes e apartamentos enormes”, diz a blogueira Manu Tessinari, do “Cup of Things”. “É um bairro gostoso para caminhar, o que é raro hoje em dia nas cidades latino-americanas”, completa a gerente comercial Juliana Konarzewski, que visitou o país no começo deste ano.
Já em San Isidro, a 4 quilômetros de Miraflores, estão localizados dois restaurantes da lista: o Astrid y Gastón (7ª posição) e o Malabar (30ª posição). Assim como Miraflores, o distrito é um dos mais desenvolvidos economicamente de todo o país e, não à toa, é onde se localiza o centro financeiro de Lima. As ruas planejadas são repletas de bancos, centros comerciais, agências internacionais e embaixadas internacionais. Além disso, é em San Isidro que se localiza o clube de golfe do Peru, o maior bosque urbano do país e a biblioteca municipal.
Como pontos turísticos, San Isidro possui –além do horizonte urbano repleto de prédios modernos– a igreja Nuestra Señora del Pilar, inaugurada em 1937 e que possui uma diversidade de pinturas e esculturas em seu interior, e o Malecón, um grande calçadão que margeia o mar onde as pessoas costumam praticar esportes, caminhar ou fazer piqueniques nos dias de sol.
O Astrid y Gastón, que já chegou a ser eleito o melhor restaurante da América Latina, fica localizado em um casarão colonial que também conta boa parte da história do Peru, a Casa Moreyra. Ele serve pratos da cozinha peruana contemporânea desde que abriu suas portas, há vinte anos. Já o Malabar fica a um quarteirão dali, debaixo de um edifício moderno no Camino Real, e possui receitas inspiradas nas raízes amazônicas do país.
Além de Miraflores e San Isidro, um terceiro bairro para se conhecer em Lima é o de Barranco, onde fica Isolina, 21ª posição da lista da “Restaurant”. Era conhecido até pouco tempo como a região dos bares, baladas, teatros, cinemas e tudo o que forma a vida noturna de uma metrópole, mas um movimento recente trouxe circulação também para o dia do distrito. Hoje, é possível encontrar cafés, lojas e galerias de arte que pulsam ainda à luz do sol.
Assim como em La Plata, na Argentina, Barranco era um bairro que, em um passado não tão distante, atraía as classes altas da capital peruana durante os períodos de verão, herança hoje presente nos vários casarões que sobreviveram e se transformaram nos atuais restaurantes e galerias. O caráter boêmio do bairro se traduz também na presença constante de mochileiros do mundo todo que chegam a Lima de passagem antes de chegarem às cidades incas, principalmente Cusco.
Parece contraditório, mas tudo coexiste no Barranco em total harmonia, tornando-se, para mim, o bairro mais charmoso da cidade”, conta Tessinari, do Cup of Things.
O Isolina, único restaurante do bairro na lista da revista britânica, também é especializado na cozinha do país, servindo pratos que podem até ser encontrados em versões simplificadas em restaurantes peruanos de São Paulo, como o lomo a lo pobre, servido na metrópole brasileira no Rinconcito Peruano, no centro.
A lista da “Restaurant” ainda escolheu um local distante dos bairros tradicionais de Lima: o Osso, que fica em La Molina, uma região repleta de áreas verdes a cerca de 15 quilômetros de Miraflores e 20 quilômetros do centro da cidade e que era formada por enormes fazendas até os anos 1960. Entre os moradores, é conhecida como a área dos colégios, universidades e pelos locais de observação da metrópole.