Wilson Moreira: ‘Quando vi a Portela, me apaixonei’

Compositor fala sobre seu contato com a azul e branco no final da década de 1960

20/04/2017 00:00 / Atualizado em 13/12/2019 11:13

No final da década de 1960, Wilson Moreira, compositor iniciado nas escolas de samba de Realengo e fundador da Mocidade Independente da Padre Miguel, começava a estreitar laços com a Portela.

Com 14 anos, o sambista já frequentava os desfiles das escolas de samba na Praça Onze.”Quando vi a Portela pela primeira vez eu me apaixonei”, recorda o início de uma paixão em entrevista exclusiva ao Samba em Rede.

“A Portela era uma coisa estupenda”, afirma Wilson Moreira
“A Portela era uma coisa estupenda”, afirma Wilson Moreira

De acordo com Moreira, Seu Natal da Portela – presidente da escola à época – era um frequentador assíduo da Mocidade por conta dos divertidos ensaios e rodas de sambas de terreiro que eram realizadas no local. “Um dia ele estava lá e ficou olhando o palanque dos compositores quando estavam todos cantando o meu samba. Quando eu desci, ele me disse: ‘Garoto, vem cá, você quer ir para a Portela?’ e eu falei: ‘Seu Natal, eu sou daqui da Mocidade’. E ele respondeu: ‘Se você quiser resolver, nós estaremos lá de braços abertos para você’.”

Wilson, que vivia uma relação intensa com a verde e branco de Padre Miguel, viu-se em uma situação desconfortável: preocupado em não desagradar os integrantes da agremiação, recusa o convite. O episódio lhe remete a Portela e o inspira a criar os versos de “O Mais Belo Requinte” – uma declaração de amor à escola de Madureira. Tempos depois, o músico decide deixar a Mocidade.

Sucesso e decepções

Por mais que admirasse – e fosse agradecido pelo que aprendera com a escola -, Wilson já tinha percebido que era hora de se afastar. “Houve uma confusão, fiquei aborrecido e não gostei do tratamento que me deram lá na Mocidade. Eu discordei e resolvi sair.”

Em 1968, ao se desligar da Mocidade, Moreira já se convertera portelense. “Eu tinha um amigo que era relações públicas da Portela. Encontrei com ele na cidade, a gente ia apanhar o trem pra ir pro subúrbio.” Juntos, pegaram um trem na Central do Brasil e, ao passar por Madureira, Moreira não titubeou: “Ele pulou do trem e eu pulei também.”

O batizado não poderia ter sido melhor: chegando lá, Wilson recebeu o convite de Natal da Portela para que fosse para a azul e branco. “A diretoria toda da Portela de pé me cumprimentando. Aquilo me emocionou e, poxa, foi uma coisa muito bonita. Eu não tive como dizer não”, conta.

Na ocasião, Moreira encantou a todos presentes na quadra ao cantar os versos de “O Mais Belo Requinte”, composição que marca sua entrada na história da Portela – e a entrada da Portela em sua vida. A música foi registrada pelo intérprete Avelino no álbum “Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela” (1972) e, anos mais tarde, no disco “O Partido Muito Alto de Wilson Moreira e Nei Lopes” (1985).

Moreira teve seu samba registrado no disco “GRES Portela”, de 1972
Moreira teve seu samba registrado no disco “GRES Portela”, de 1972

Desde então, seu reconhecimento na escola somente cresceu e a sua figura como sambista continua sendo celebrada pelos portelenses. Não à toa, o compositor dedicou diversas composições à agremiação. Moreira saúda os bambas da Velha Guarda em “Portela e Seus Encantos” e “A Brilhante Velha Guarda“, registradas nos álbuns “Peso na Balança” (1986) e “Entidades I”(2002), respectivamente.

Wilson Moreira viu de perto as mudanças pelas quais passou o Carnaval
Wilson Moreira viu de perto as mudanças pelas quais passou o Carnaval

O talento de Moreira no samba resultou em inúmeras parcerias com Antônio Alves, Monarco, Jair do Cavaquinho e Candeia – seu parceiro mais constante e com quem fundou, ao lado de outros compositores, o Grêmio Recreativo de Artes Negras e Escola de Samba Quilombo, em 1975. A agremiação  nasceu exatamente como resposta às mudanças que o Carnaval começava a apresentar.

De acordo com o sambista, Seu Natal viu a Beija-Flor de Nilópolis ganhar o Carnaval com o enredo “Sonhar com o Rei dá Leão” (1975) e ficou deslumbrado com os novos moldes de Carnaval que se apresentavam. Então, Candeia teve a ideia de fundar uma escola de samba defendesse os valores tradicionais da Carnaval.