Wilson Moreira, um sambista em formação
Respeitado por várias gerações do samba, Wilson Moreira completou 80 anos em 2016. O talentoso compositor de melodias e letras que combinam sofisticação e simplicidade, desfruta de grande prestígio e notoriedade para a cultura popular brasileira.
Suas canções, embebidas de tradição de terreiro, são testemunhos de outro tempo. Em sua obra, Moreira recria o jongo, calango, samba-de-roda, congada e, claro, honra a ancestralidade negra presente no samba.
Sambista em formação
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Nascido em 12 de dezembro de 1936 na Rua Mesquita, no bairro de Realengo, Rio de Janeiro, Moreira tem orgulho da vida e da educação que teve. De origem humilde, sua mãe, Hilda Balbina – mineira de Juiz de Fora -, era uma grande defensora das tradições africanas. O pai, Francisco Moreira Serra, conhecido como “Chicão” em Realengo – funcionário do IAPI, o antigo Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários -, era um grande entusiasta da música popular.
Foi deles que o garoto herdou a bagagem musical, que tanto fez parte das memórias colocadas em suas letras e melodias. “Meu primeiro contato com música? Minha mãe contava que meus avós eram sanfoneiros, jogavam caxambu e gostavam de dançar jongo”, revela em entrevista exclusiva concedida ao Samba em Rede.
Ao longo de sua adolescência, Wilson teve de trabalhar para ajudar em casa, mas mesmo assim persistiu na escola. Foi então vendedor de amendoim, cocada, entregador de marmita, engraxate, guia de cego e mais tarde guarda de presídio, profissão que o acompanharia por cerca de 35 anos.
Mas o samba teve primazia em sua trajetória: encontrou cedo uma maneira de se aproximar das tradições do gênero. Com 12 anos de idade, Moreira já observava atentamente o batuque das escolas de samba de Realengo, bairro onde morava.
A primeira escola da qual participou foi a Unidos da Água Branca, que se fundiu, posteriormente, à Mocidade Independente de Padre Miguel. Frequentou também a Voz de Orion, Três Mosqueteiros e a Unidos da Curitiba – uma escola pequena mas que já ganhava o tablado na Praça Onze.
Em pouco tempo, o sambista já mostrava seu talento artístico. Tocava tamborim na Água Branca, era passista e fazia suas primeiras composições. “Eu comecei a compor com 13 anos de idade. No começo, achava que aquilo tudo não passava de uma grande bobagem.”
Encontro especial
Com habilidade e muita timidez, foi preciso que o sambista Paulo Brazão o encorajasse a mostrar suas composições publicamente. O temor de que não fosse uma profissão “com futuro” pairava no ar.
Paulo Brazão e Seu China estiveram entre os fundadores da Unidos de Vila Isabel. Também conhecido como “compositor eterno da Vila”, Brazão foi autor de pelo menos 15 sambas-enredo que embalaram a agremiação entre as décadas de 1940 e 1960.
Moreira apresentou algumas de suas composições à Paulo. “E ele [Paulo] me disse: ‘Muito bonito, hein? Pode se filiar e cantar esse samba que você vai se dar bem'”, relembra sobre a insistência do colega que o motivou a ir à Mocidade Independente de Padre Miguel – uma escola que estava começando e onde o jovem compositor teria mais abertura para construir sua carreira musical.
Seguindo o conselho do parceiro mais experiente, Moreira apresentou versos do samba “Bahia” ao presidente da ala dos compositores da Mocidade, Eurico Costa. Na letra, o sambista canta: “Bahia me recordo com amor / Quando eu vejo alguém falar / Terra de São Salvador / Bahia berço de grandes poetas / Uma terra que é esta…”, sua primeira parceria com Ivan Pereira, também conhecido como “Davolta”.
Ovacionado pela comunidade, Moreira não poderia ter se saído melhor: “Todo mundo cantava. Era lindo. E a partir disso eu comecei a acreditar na coisa”, recorda. O jovem compositor é então convidado a participar da fundação da Mocidade Independente de Padre Miguel no ano de 1955.
Por mais de uma década, Wilson acompanhou bem de perto o processo de criação e evolução da escola, aprimorando seu estilo de composição e sua vivência no samba. Foi duas vezes campeão com o samba-enredo “Brasil no Campo Cultural”, em 1962, e “As Minas Gerais”, em 1963.
Durante a entrevista, Moreira ainda declara sua admiração pelo entusiasta: “Se você chegar na Vila Isabel e falar de Brazão é capaz das pessoas falarem mil coisas bonitas dele. Ele foi um compositor e tanto.”