Diabéticos orientados por agentes de saúde a reutilizar seringas

Diabéticos que usam o sistema público de saúde estão sendo orientados a reutilizar seringas para aplicação de insulina.

Recomendação contraria a descrição da embalagem do material distribuído pelo SUS
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Recomendação contraria a descrição da embalagem do material distribuído pelo SUS

Reportagem do G1 ouviu pacientes da cidade de São Bernardo do Campo, Grande São Paulo, que nos últimos meses receberam menos seringas do que o usual e, ao questionar o motivo da diminuição da distribuição, receberam a indicação de reutilizar o material, que estaria em falta.

A recomendação contraria a descrição da própria embalagem do material distribuído pelo SUS, mas o Ministério da Saúde considera que a seringa pode ser utilizada (por uma única pessoa) para até oito aplicações. Leia matéria completa no G1.

Em 2013 o Ministério Público Federal do Pará já havia considerado “ilegal a orientação para reutilização, pelos diabéticos, de seringas descartáveis na aplicação contínua de insulina” e pleiteou a anulação parcial do exemplar nº 16 da série ‘Cadernos da Atenção Básica – Ministério da Saúde’.

Uma das normas citadas pelo Ministério Público Federal foi a Resolução RE nº 2605/2006 da ANVISA, que classifica agulhas e seringas descartáveis como produtos de uso único proibidos de ser reprocessados. Além disso, algumas associações médicas e de enfermagem oficiadas se manifestaram contrárias à reutilização de seringas. Entretanto, foram citados estudos nacionais e internacionais, utilizados como critérios técnicos da orientação, que indicam a ausência de problemas causados exclusivamente pela reutilização de seringas e agulhas na aplicação de insulina para diabéticos.

À época o Ministério Público também alegou que: “a impossibilidade de reutilização da seringa ocasionaria um custo de R$ 447.884.494,20 por mês, considerando que cada usuário necessita, em média, de três aplicações de insulina por dia, um gasto de praticamente 10 milhões de reais/dia. O impacto financeiro na economia pública e, em consequência, a ordem administrativa e a saúde pública seria na ordem de 3,6 bilhões de reais por ano”. Diante dos argumentos apresentados pela Procuradoria-Regional da União da 1ª Região (PRU1) e pela Consultoria Jurídica do Ministério da Saúde (CONJUR/MS), o Tribunal deferiu o pedido de suspensão, reconhecendo que não havia evidência concreta de prejuízo à saúde dos diabéticos relacionada à reutilização do insumo, conforme informações do Portal da Saúde.

“Devido ao reuso, não é possível garantir a esterilidade das seringas e agulhas, aumentando os riscos de infecção”, indica a Sociedade Brasileira de Diabetes
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“Devido ao reuso, não é possível garantir a esterilidade das seringas e agulhas, aumentando os riscos de infecção”, indica a Sociedade Brasileira de Diabetes

A Sociedade Brasileira de Diabetes recomenda no documento ‘Aplicação de insulina: dispositivos e técnica de aplicação‘ que: “Todas as alterações decorrentes do reuso de seringas e agulhas, predispõem o paciente ao desconforto e à dor durante a aplicação, além de erro no registro da dose, imprecisão na dose injetada, desperdício de insulina, lipo-hipertrofia e consequente alteração no controle da glicemia. Devido ao reuso, não é possível garantir a esterilidade das seringas e agulhas, aumentando os riscos de infecção. Com o reuso, o tratamento poderá ficar mais oneroso para o governo, considerando os custos com o desperdício de insulinas e análogos de insulina e, principalmente, com o tratamento das complicações agudas e crônicas que poderão surgir”.

Segundo endocrinologista e metabologista Danilo Höfling explica em matéria do Minha Vida, parceiro do Catraca Livre, reutilizar seringas não é indicado: “O ideal é utilizar uma nova seringa e agulha em cada aplicação. Esses cuidados contribuem para evitar contaminação e infecção do local de aplicação”. Leia matéria completa.