“A homeopatia é uma farsa e pode ser fatal”, diz professor da USP

Em artigo publicado ontem no Jornal da USP, Beny Spira, professor livre-docente pela USP, com doutorado em genética molecular pela Universidade de Tel Aviv, criticou a própria publicação por ter divulgado matéria sobre homeopatia.

Beny Spira, professor da USP, com doutorado em genética molecular
Créditos: Marcos Santos/USP Imagens
Beny Spira, professor da USP, com doutorado em genética molecular

“Venho expressar a minha surpresa e indignação com a publicação da reportagem Ensino de homeopatia veterinária é deficiente, afirma pesquisadora no Jornal da USP. É lastimável que essa entidade representativa da Universidade de São Paulo seja porta-voz de pseudociência (fake science). A homeopatia, apesar de ter defensores na classe médica, é uma das mais manjadas pseudociências”, escreveu.

Ele afirma que, mesmo que a publicação busque ser democrática e promover o debate e opiniões diferentes, divulgar esse tipo de medicina “contribui para a difusão de um conhecimento errado, arcaico e perigoso”, afirma.

Para ele a ciência é baseada na busca da verdade, não em opiniões, e não tem que ser democrática.

Quando questionado sobre o motivo de considerar a homeopatia é errada, ele afirma queseu princípio é baseado em premissas falsas como o princípio dos similares e a lei dos infinitesimais.

“O primeiro prega a máxima Simila similibus curentur, que significa ‘similar cura similar’… o princípio de ‘similar cura similar’ é interessante, mas absolutamente errado, pois carece de evidências científicas”, alega Spira.

Sobre a lei dos infinitesimais – que estabelece que quanto maior a diluição de um medicamento, maior a sua capacidade curadora – Beny diz que não existem mecanismos que expliquem como uma solução ultra diluída possa ter qualquer efeito curativo.

Se a enfermidade for grave, o resultado poderá ser fatal”, diz Spira
Créditos: Getty Images/iStockphoto
Se a enfermidade for grave, o resultado poderá ser fatal”, diz Spira

O especialista comenta ainda sobre a matéria publicada previamente no jornal que: “Apesar de o artigo ter afirmado que a ‘homeopatia não é estudada na universidade’, milhares de estudos já foram realizados, em todos os cantos do planeta. A grande maioria dos estudos clínicos devidamente bem conduzidos revelou que o tratamento homeopático equivale ao tratamento com placebo, ou seja, não foi detectado nenhum efeito curativo significativo de qualquer composto homeopático a não ser aquele causado por autossugestão”.

Ainda segundo ele, países que levam a ciência a sério – como o Reino Unido – querem banir a homeopatia do rol de medicamentos prescritos pelo sistema nacional de saúde.

Beny alega que, diferente da ciência como um todo, a homeopatia não evoluiu desde o século XIX, quando foi criada. Para ele isso é perigoso.

“Muitas doenças são potencialmente debilitantes ou fatais. A medicina convencional, baseada em evidências científicas, busca administrar o melhor tratamento, o qual é apontado por testes clínicos e pré-clínicos. Para doenças benignas ou de baixa gravidade, o tratamento homeopático não causará dano maior; mas, se a enfermidade for grave, o resultado poderá ser fatal”, concluiu Spira.