Já ouviu falar do “Viagra Rosa”?

Texto por Emma Paling 

O que torna o sexo bom? O orgasmo? A interação das partes? Ou o simples fato de fazer sexo?

Para uma das participantes de um estudo sobre disfunção sexual realizado pela FDA (Food and Drug Administration, o órgão americano responsável pelo controle de alimentos, cosméticos e medicamentos no país), sexo bom é quando seu marido se diverte. Katherine, identificada apenas por seu primeiro nome, diz “não ter expectativas” quanto ao assunto e que faz sexo “por obrigação”. Carol, outra participante, diz que só quer chegar ao final sem chorar. Beverly diz já ter gasto US$ 35.000 em diversos tratamentos médicos para consertar o problema de seu interesse sexual.

Embora todas as mulheres ouvidas no estudo conduzido em outubro tenham descrito diferentes problemas em relação ao sexo, todas obtiveram o mesmo diagnóstico: Disfunção Sexual Feminina (DSF). Inexistente há 10 anos, a disfunção é ainda hoje motivo de ceticismo para muitos especialistas. Vários médicos duvidam de sua existência ou de que seja possível tratá-lo com a medicina moderna.

Apesar das incertezas, a Sprout Pharmaceuticals — mesma fabricante do Testopel, a pastilha de testosterona que podia causar crescimento de seios — pretende colocar no mercado o santo graal dos remédios contra disfunções sexuais: um “Viagra para mulheres” ou, como chamam por aí, o “Viagra rosa”.

A flibanserina, princípio ativo do “Viagra rosa”, seria inicialmente destinado ao tratamento contra a depressão, mas foi reprovada durante os testes. O motivo: algumas mulheres afirmaram ter sentido um aumento do desejo sexual. De olho na oportunidade de se lançar em um mercado sem concorrência, a Sprout comprou a patente do composto em 2012 e o classificou como recomendado ao tratamento contra a DSH, Síndrome do Desejo Sexual Hipoativo, antiga terminologia da DSF.

Embora o medicamento já tenha sido rejeitado duas vezes pela FDA devido a sua ineficiência e ao alto índice de efeitos colaterais e interações medicamentosas, há sinais que levam a crer que a Sprout poderá disponibilizar a flibanserina ao público geral em agosto deste ano. No seu último relatório, um comitê interno da FDA declarou que a disfunção sexual feminina era “claramente uma área de necessidades médicas não atendidas”. E por mais que a FDA tenha admitido no relatório não saber como a flibanserina funciona no tratamento dessa disfunção que pode nem existir, seu uso foi aprovado com 18 votos a favor e apenas 6 contra.

“É muito desgastante começarmos uma reunião dizendo que estamos comprometidos com o desenvolvimento de uma nova droga quando, na verdade, não conseguimos chegar a um consenso sobre sua finalidade”, declarou ao comitê o Dr. Leonore Tiefer, psiquiatra Faculdade de Medicina da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos.

Alguns atribuem essa nova aceitação da flibanserina a uma agressiva campanha de marketing orquestrada pela Sprout, que acusou a FDA de sexismo. Anita Clayton, médica e consultora remunerada da Sprout e de outras sete companhias farmacêuticas, alega em um artigo que… [Continue lendo aqui.]