Após ser atacada ao denunciar estupro, Daisy Coleman comete suicídio

A historia da jovem, de 23 anos, inspirou o o documentário "Audrie & Daisy", na Netflix que relata casos de abuso

Daisy Coleman, de 23 anos, cuja história inspirou o documentário “Audrie & Daisy”, na Netflix, cometeu suicídio ontem, segundo informou sua mãe, Melinda Coleman, em uma publicação no Facebook. A jovem foi atacada nas nas redes sociais e pessoalmente após ter denunciado, em 2012, um estupro que sofreu aos 14 anos. Daisy foi xingada de “mentirosa”, “vadia” e “idiota” e a casa de sua família foi incendiada.

Após ser atacada ao denunciar estupro, Daisy Coleman comete suicídio
Créditos: Reprodução/Youtube
Após ser atacada ao denunciar estupro, Daisy Coleman comete suicídio

“Minha filha, Catherine Daisy Coleman, se suicidou ontem à noite”, escreveu Melinda. “Ela era minha melhor amiga e uma filha incrível. Acho que ela queria mostrar que eu poderia viver sem ela. Queria poder ter curado sua dor. Ela nunca se recuperou daquilo que aqueles garotos fizeram com ela, e não é justo. Minha garotinha se foi.”

My daughter Catherine Daisy Coleman committed suicide tonight. If you saw crazy/ messages and posts it was because I…

Posted by Melinda Moeller Coleman on Tuesday, August 4, 2020

Daisy contou na época que foi estuprada por Matthew Barnett, um adolescente que vivia em sua cidade, no Missouri, Estados Unidos. Ela disse que foi deixada drogada do lado de fora de sua casa, usando apenas uma camiseta num frio de menos de zero grau.

Barnett era de uma família influente na cidade. As denúncias contra ele não foram adiante. Ele nunca admitiu o estupro, mas se declarou culpado com uma acusação mais branda. Segundo o jovem, o sexo com Daisy Coleman foi consensual.

A repercussão do caso não foi de apoio a Daisy, ela e sua família foram alvos de onda de retaliação nacional. Após os ataques, Coleman tentou se suicidar inúmeras vezes até que se tornou uma ativista.

“Sinto que as pessoas têm certas opiniões e percepções sobre mim e sobre casos como o meu porque não têm educação”, disse a jovem à revista People em 2017, aos 19 anos. “É exatamente por isso que estou tentando explicar às pessoas o que está acontecendo em nossa sociedade. ”

Veja o trailer do documentário que conta a hist´ria da Daisy Coleman

Suicídio

O suicídio é considerado pelo Ministério da Saúde como um problema de saúde pública, complexo, multifacetado e de múltiplas determinações, que pode afetar indivíduos de diferentes origens, classes sociais, idades, orientações sexuais e identidades de gênero.

Todos os anos, cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio no mundo, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde). No Brasil, uma pessoa morre por suicídio a cada hora, enquanto outras três tentaram se matar sem sucesso no mesmo período.

O assunto é tão complexo que muitas pessoas evitam falar a respeito, o que nem sempre é a melhor decisão. Um problema dessa magnitude não pode ser negligenciado, pois sabe-se que o suicídio pode ser prevenido.

Uma comunicação correta, responsável e ética é uma ferramenta importante para evitar o efeito contágio.

Qual seria essa forma? Vamos listar alguns sinais de alerta de pessoas em risco e onde procurar ajuda nesses casos.

  •  Formas de prevenção

Um dos falsos mitos sociais em torno do suicídio é que a pessoa que tem a intenção de tirar a própria vida não avisa, não dá pistas. Isso não é verdade e devemos considerar seriamente todos os sinais de alerta que podem indicar que a pessoa está pensando em suicidar-se.

Saber reconhecê-los em você ou em alguém próximo é o primeiro e o mais importante passo. Por isso, sempre fique de olho no seguinte:

  •  Problemas de conduta ou manifestações verbais

Se alguém está, pelo menos, há duas semanas com conduta ou manifestações verbais referentes à suicídio, fique de olho! Essas manifestações não devem ser interpretadas como ameaças nem como chantagens emocionais, mas sim como avisos de alerta para um risco real.

  • Preocupação com sua própria morte ou falta de esperança

As pessoas sob risco de suicídio costumam falar sobre morte e suicídio mais do que o comum, confessam se sentir sem esperanças, culpadas, com falta de autoestima e têm visão negativa de sua vida e futuro. Essas ideias podem estar expressas de forma escrita, verbal ou por meio de desenhos.

Buscando ajuda

Pensar em acabar com a própria vida pode ser insuportável e muito difícil, e você pode não conseguir enxergar uma saída. Mas existe ajuda disponível!

Primeiramente, é muito importante conversar com alguém que você confie. Não hesite em pedir ajuda! Você pode precisar de alguém que te acompanhe e te auxilie a entrar em contato com os serviços de suporte.

Lembre-se que quando pede ajuda, você tem o direito de ser respeitado e levado a sério, ter o seu sofrimento levado em consideração, falar em privacidade com as pessoas sobre você mesmo e sua situação, ser escutado e ser encorajado a se recuperar.

Onde buscar ajuda para prevenir o suicídio?

Há algumas possibilidades de auxílio nesse momento:

Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) nas suas diferentes modalidades são pontos de atenção estratégicos da RAPS: serviços de saúde de caráter aberto e comunitário constituído por equipe multiprofissional e que atua sobre a ótica interdisciplinar e realiza prioritariamente atendimento às pessoas com sofrimento ou transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas, em sua área territorial, seja em situações de crise ou nos processos de reabilitação psicossocial e são substitutivos ao modelo asilar.

A Unidade Básica de Saúde (UBS) é o contato preferencial dos usuários, a principal porta de entrada e centro de comunicação com toda a Rede de Atenção à Saúde. É instalada perto de onde as pessoas moram, trabalham, estudam e vivem e, com isso, desempenha um papel central na garantia de acesso à população a uma atenção à saúde de qualidade.

A Unidade de Pronto Atendimento (UPA 24h) faz parte da Rede de Atenção às Urgências. O objetivo é concentrar os atendimentos de saúde de complexidade intermediária, compondo uma rede organizada em conjunto com a atenção básica, atenção hospitalar, atenção domiciliar e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU 192.

O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, email, chat e voip 24 horas todos os dias.

A ligação para o CVV em parceria com o SUS, por meio do número 188, são gratuitas a partir de qualquer linha telefônica fixa ou celular.

Também é possível acessar o site do CVV para chat, Skype, e-mail e mais informações sobre ligação gratuita, ou conferir aqui os postos de atendimento.

Ligue 188 – CVV
Créditos: divulgação/Arte Catraca Livre
Ligue 188 – CVV
  • Ajuda psicológica gratuita

Universidades públicas e particulares no Brasil que possuem em sua grade o curso de Psicologia normalmente possuem atendimento psicológico gratuito para a comunidade. Há profissionais particulares que oferecem cotas de atendimento psicológico social para pessoas em situações financeiras vulneráveis.
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