Médica receita mantras para paciente em surto psiquiátrico no RJ
O documento clínico diagnosticou o homem com possessão espiritual e o recomentou a repetir mantra 108 vezes
Uma médica receitou mantras para paciente em surto psiquiátrico, em uma unidade municipal de saúde do Rio de Janeiro (RJ), na noite de sábado, 28, após diagnosticá-lo com ‘possessão espiritual.
A médida não assinou o receituário em que prescreveu ao homem repetir “Ohm Namah Shivaya — 108 vezes. Ho opono Pono. Asatoma Mantra”. Na receita é possível ver que ela veio da Coordenação de Emergência Regional (CER) da Barra da Tijuca, zona oeste da capital fluminense.
“Ohm Namah Shivaya” é um mantra que evoca Shiva, um dos mais importantes deuses do hinduísmo. “Ohm” é uma das entonações mais importantes e representaria o som universal para o hinduísmo.
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A quantidade de repetições se refere as contas do japamala que é um cordão usado na ioga para ajudar a entrar no estado meditativo.
O caso veio a público após um post do coordenador do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, Pablo Nunes. “Desde a semana passada, uma pessoa da minha família está em surto, ficou cinco dias sem dormir, fala sem parar coisas sem sentido etc. Ontem ela visitou a segunda psiquiatra em três dias. O diagnóstico? Possessão espiritual”, disse o pesquisador, no Twitter.
Pablo Nunes ainda afirmou que “o deboche é tanto que a psiquiatra preencheu um receituário com os mantras que meu parente deveria recitar para ‘se livrar do espírito’. Não receitou remédio e muito menos assinou o receituário de mantras. Hospital municipal, sob gestão de @MCrivella”.
Marcelo Crivella (PRB) é evangélico e prefeito do Rio de Janeiro, cidade que enfrente uma grave crise na saúde. Depois de citar o líder do executivo municipal, o pesquisador afirma: “não pelo fato dele ser evangélico, mas por suas reiteradas mostras de incompetência no trato da gestão da saúde”.
“Se a psiquiatra receitasse orações seria tão escandaloso quanto os mantras”, conclui Nunes.
Procurado pela Folha, Nunes disse que não gostaria de falar mais sobre o assunto, pois a família quer preservar a pessoa em tratamento psiquiátrico. Ela já está sendo atendida em outro centro médico.
Uma sindicância será aberta para apurar a conduta da psiquiatra disse a Secretaria Municipal de Saúda em nota enviada para o jornal ‘Folha de S.Paulo’. “No CER, os pacientes da Saúde Mental recebem tratamento conforme preconizado pela SMS. Nenhum profissional está autorizado a seguir outras linhas de tratamento da psiquiatria que não seja o estabelecido no protocolo da Superintendência de Saúde Mental da SMS”.