Bebês reborn tratados no SUS? Deputado propõe projeto polêmico em MG

Projeto pode parecer excêntrico à primeira vista, mas levanta questão séria: como lidar com situações que envolvem vínculos simbólicos

15/05/2025 17:15 / Atualizado em 19/05/2025 19:58

Projeto propõe a proibição expressa do atendimento a bebês reborn e outros objetos inanimados em unidades públicas mineiras – iStock/Freila
Projeto propõe a proibição expressa do atendimento a bebês reborn e outros objetos inanimados em unidades públicas mineiras – iStock/Freila - Getty Images/iStockphoto

Um novo projeto de lei protocolado na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) reacende uma discussão curiosa e controversa: o uso de bonecas hiper-realistas, conhecidas como “bebês reborn“, nos serviços públicos de saúde.

De autoria do deputado estadual Cristiano Caporezzo (PL), o PL 3.757/2025 propõe a proibição expressa do atendimento a esses bonecos e outros objetos inanimados em unidades públicas mineiras. Segundo o texto, quem descumprir a regra poderá ser multado em até dez vezes o valor do serviço prestado.

O deputado justifica a proposta com base em relatos — não confirmados oficialmente — de que algumas pessoas teriam levado bonecas reborn para atendimento em hospitais, alegando que “a criança” apresentava sintomas como febre

Em vídeo publicado nas redes sociais, Caporezzo apresenta o projeto com tom de escárnio. Na encenação, uma mulher pede ao deputado a emissão de uma certidão de nascimento para sua boneca reborn.

Ao final, ele dispara: “Levem ela para o hospício”. A publicação gerou repercussão nas redes, dividindo opiniões entre quem apoia a medida como forma de “bom senso” e quem critica a abordagem desrespeitosa e estigmatizante.

Bebês reborn, muito mais que brinquedos

Apesar do tom debochado adotado por Caporezzo, os bebês reborn não são simples brinquedos. Confeccionados manualmente, com detalhes que imitam com precisão recém-nascidos reais — da textura da pele aos fios de cabelo —, esses bonecos vêm ganhando espaço como instrumentos de apoio emocional.

São utilizados por colecionadores, entusiastas e também por pessoas em situações delicadas, como luto perinatal ou transtornos de ansiedade.

Vereadores do RJ querem instituir o Dia da Cegonha Reborn –   iStock/UncleDmytro
Vereadores do RJ querem instituir o Dia da Cegonha Reborn –   iStock/UncleDmytro - Getty Images/iStockphoto

Essa vertente terapêutica é justamente o foco de outra proposta legislativa, desta vez na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). O deputado Rodrigo Amorim (União) protocolou o PL 5357/2025, que cria um programa de apoio psicológico voltado a pessoas que desenvolvam vínculos afetivos com bebês reborn.

O projeto busca oferecer acolhimento, acompanhamento psicológico e prevenção de quadros como depressão e isolamento social.

Entre o simbólico e o institucional

A crescente popularidade dos reborns chegou também ao calendário oficial do Rio de Janeiro. No início de maio, a Câmara Municipal da capital fluminense aprovou o projeto de lei que institui o Dia da Cegonha Reborn, em homenagem às artesãs responsáveis por produzir esses bonecos. A data escolhida, 4 de setembro, aguarda agora a sanção do prefeito Eduardo Paes.

Conhecidas como “cegonhas”, essas artistas dedicam-se a processos minuciosos para criar bonecos com aparência e peso de um recém-nascido. A prática já conquistou celebridades como Britney Spears, Gracyanne Barbosa e o padre Fábio de Melo — todos declaradamente encantados com os bebês reborns.

Um debate maior

O projeto mineiro pode até parecer exótico à primeira vista, mas levanta uma questão séria: como os sistemas públicos de saúde devem lidar com situações que envolvem vínculos simbólicos e, por vezes, manifestações de sofrimento psíquico?

Especialistas apontam que negar, ridicularizar ou punir essas expressões pode ser contraproducente — especialmente quando existem ferramentas mais humanas e eficazes para lidar com elas, como o acolhimento psicológico e o acompanhamento profissional.

O foco, sugerem, deveria estar menos em legislar sobre bonecas e mais em compreender os contextos emocionais por trás dessas relações.

Enquanto isso, o Brasil segue observando, entre o espanto e o debate, o surgimento de iniciativas legislativas que buscam, de formas distintas, lidar com um fenômeno cada vez mais visível — e que talvez diga mais sobre as necessidades emocionais da sociedade do que se costuma admitir.

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