Cientistas criam mochilas para bebês tartarugas em um estudo
Experimento tem como objetivo entender como são os primeiros dias dos animais marinhos
Durante a época de reprodução, as tartarugas marinhas escolhem as praias para enterrar seus ovos em ninhos profundos, que podem variar entre 30 e 80 centímetros abaixo da areia.
Após a eclosão, os pequenos filhotes emergem e fazem a jornada até o mar, um caminho delicado e desafiador, agravado pelas mudanças ambientais causadas pela ação humana.
Para entender o que acontece nos dias entre o rompimento dos ovos e a chegada dos filhotes à superfície, um novo estudo busca informações que possam ajudar na conservação dessas espécies em estágio de declínio em todo o mundo.
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Agora, um novo estudo revela detalhes fascinantes sobre o que acontece nos dias entre o rompimento dos ovos e a chegada dos filhotes à superfície, fornecendo informações que podem ajudar na conservação dessas espécies, que enfrentam um declínio global.
Já há algum tempo, os cientistas sabem que os filhotes passam de três a sete dias debaixo da areia após a eclosão, mas observar esse momento era uma tarefa difícil. Métodos como câmeras subterrâneas e microfones instalados no solo foram testados sem grande sucesso.
Qual a função das mochilas nas bebês tartarugas?
Utilizando uma técnica inovadora, cientistas australianos fizeram descobertas inéditas. Eles usaram um equipamento que mede a corrente elétrica no solo, capaz de identificar flutuações sutis associadas à eclosão dos ovos. A partir disso, cavaram até o filhote mais próximo da superfície e equiparam-no com uma espécie de mochila tecnológica. Esse filhote foi então reenterrado no mesmo local.
A tal “mochila” é, na verdade, um acelerômetro, um aparelho que mede variações de velocidade e direção. “O acelerômetro que usamos é bem simples, ele mede a aceleração em três eixos: frente e trás, cima e baixo, e de um lado para o outro”, detalha Davey Dor, autor principal da pesquisa, realizada como parte de seu doutorado.
O estudo foi conduzido na Ilha Heron, ao leste da Austrália, onde se localiza uma estação de monitoramento de longo prazo dos ninhos de tartarugas verdes, na Grande Barreira de Corais. A temporada de desova na área geralmente ocorre entre dezembro e março, e os resultados do estudo foram publicados recentemente na revista Proceedings of the Royal Society B.
Ao analisar os dados, os pesquisadores observaram algo surpreendente: mesmo no escuro total e cercados de areia, os filhotes mantinham uma orientação consistente, com a cabeça apontada para cima. “Eles se movem como se estivessem nadando, em vez de cavando, e tendem a restringir seus movimentos à noite quando estão mais próximos da superfície”, relata Dor à publicação.
Futuro da espécie
Essas descobertas, embora pareçam detalhes, são extremamente úteis para a conservação. Em várias partes do mundo, ovos de tartarugas são relocados para locais mais seguros, sombreados e úmidos, uma medida essencial para protegê-los das consequências das mudanças climáticas e da elevação do nível do mar. No entanto, esse processo pode alterar condições como a temperatura e umidade do ninho, influenciando a capacidade dos filhotes de se locomoverem e manterem-se vivos.
Em meio ao desafio de observar os primeiros dias de vida desses animais, a nova metodologia com acelerômetros pode preencher lacunas cruciais para a preservação da espécie no futuro.