Morre Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, aos 89 anos
Ainda não há informações divulgadas sobre a causa da morte
Morreu nesta terça-feira, 13, aos 89 anos, José “Pepe” Mujica, ex-presidente do Uruguai. O falecimento foi confirmado pelo presidente uruguaio Yamandú Orsi, que era afilhado político de Mujica.

- Ainda não há informações divulgadas sobre a causa da morte.
- Em abril de 2024, Mujica anunciou em uma coletiva de imprensa que havia sido diagnosticado com um tumor no esôfago, descoberto durante exames de rotina. Além disso, o quadro se somava a uma doença autoimune que comprometia seus rins.
- Após a remissão do câncer, o ex-presidente passou por uma cirurgia. No segundo semestre, foi hospitalizado quatro vezes em um intervalo de menos de duas semanas, devido a complicações digestivas causadas pela radioterapia. Foi submetido a uma gastrostomia para garantir o “bom fluxo” de alimentos e permitir a regeneração natural do esôfago.
- Nos últimos dias, o quadro de saúde do ex-presidente se agravou. No domingo (11), em entrevista ao jornal argentino Tiempo, Orsi afirmou que Mujica passava por “um momento crítico de saúde”. O presidente comentou também: “Estamos tentando protegê-lo e impedi-lo de fazer coisas que possam prejudicá-lo. Algumas das ações recentes parecem tê-lo afetado”.
Doença e últimos meses
Em abril de 2024, Mujica revelou publicamente que havia sido diagnosticado com um tumor no esôfago durante um check-up de rotina. Já convivia com uma doença autoimune que comprometia seus rins. Após um tratamento com radioterapia, teve remissão do câncer, mas precisou se submeter a uma cirurgia. No segundo semestre, enfrentou quatro internações em menos de duas semanas por distúrbios digestivos provocados pelo tratamento. Uma gastrostomia foi realizada para permitir o “bom fluxo” de alimentos e ajudar na recuperação do esôfago.
Na véspera de sua morte, sua esposa, Lucía Topolansky, informou que ele estava em cuidados paliativos em casa e não participou das eleições regionais por estar em fase terminal.
Em entrevista ao jornal argentino Tiempo, no domingo (11), o presidente Orsi descreveu o estado de saúde de Mujica como sendo “um momento crítico de saúde”. E acrescentou: “Estamos tentando protegê-lo e impedi-lo de fazer coisas que possam prejudicá-lo. Algumas das ações recentes parecem tê-lo afetado”, disse à imprensa.
Postura diante da morte
Pepe tratava a morte com naturalidade: “É preciso morrer. Pertencemos ao mundo dos vivos, nascemos destinados a morrer. Por isso a vida é uma aventura maravilhosa. Mais de uma vez na minha vida a morte rondou a cama, desta vez parece que vem com a foice em punho. Vamos ver o que acontece”, afirmou.
Mesmo diante da doença, ele continuou incentivando a juventude com mensagens de esperança: “Vou continuar militando com meus companheiros, fiel à minha forma de pensar, com minhas verduras e com minhas galinhas. Quero dizer às meninas e aos meninos do nosso país que a vida é linda, mas se desgasta. A questão é recomeçar a cada vez que cair e, se houver raiva, transformá-la em esperança”.
Na despedida, fez um gesto de respeito à diversidade de ideias: “É fácil respeitar aqueles que pensam parecido com você, mas você precisa aprender que o fundamento da democracia é o respeito aos que pensam diferente”.
As origens de Mujica
José Alberto Mujica Cordano nasceu em 20 de maio de 1935, em Montevidéu. De ascendência basca e italiana, era filho de pequenos agricultores. Após a morte do pai, passou a trabalhar com a mãe como florista. Casado com Lucía Topolansky, vivia em uma chácara simples em Rincón del Cerro, onde cultivava hortaliças e flores. Mesmo como presidente, recusava luxos, doava parte de seu salário e era conhecido como “o presidente mais pobre do mundo”.
Trajetória política e militância
Começou sua militância no Partido Nacional, mas deixou a sigla em 1962 para fundar, com o Partido Socialista, a União Popular. Ingressou no Movimento de Libertação Nacional – Tupamaros, grupo guerrilheiro de esquerda, e foi ferido com seis tiros em 1972. Ficou preso por mais de 10 anos, muitos deles em condições degradantes: “Os primeiros meses daquela prisão passei amarrado com arames. Na noite em que me colocaram em um colchão para dormir, me senti feliz. Às vezes, eu ficava dois meses sem tomar banho. E em absoluta solidão, com a visita de familiares uma vez por mês, principalmente de minha mãe”, disse Mujica.
Fugiu da prisão duas vezes, uma delas escavando um túnel. Foi libertado em 1985 por força da Lei de Anistia. Em seguida, fundou o MPP (Movimento de Participação Popular), o qual se tornou a principal força da Frente Ampla. Foi deputado, senador e ministro da Agricultura antes de se tornar presidente entre 2010 e 2015.
Legado como presidente
No governo, implementou reformas sociais e pautas progressistas. Legalizou o aborto até a 12ª semana, regulamentou a produção e consumo da maconha e sancionou o casamento igualitário. Investiu em educação e políticas sociais com uma gestão econômica moderada. Após a presidência, voltou ao Senado em 2015 e 2019, mas renunciou em 2020 por motivos de saúde. “Me arrependo de tanta coisa. Eu fui presidente, e neste país tem gente que passa fome”, declarou à época.
Relação com o Brasil e Lula
Mujica manteve laços estreitos com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2022, participou do comício final da campanha presidencial em São Paulo. “É muito importante para a esperança [da América do Sul], mostrará que somos capazes de retornar”, disse.
Em dezembro de 2023, Lula foi até a casa do ex-presidente uruguaio para conceder-lhe a maior honraria brasileira, a Ordem do Cruzeiro do Sul. “Essa medalha que eu estou entregando ao Pepe Mujica, não é pelo fato dele ter sido o presidente do Uruguai, é pelo fato dele ser um amigo”, afirmou Lula, emocionado. “Eu posso dizer que de todos os presidentes que eu conheci, que eu tive amizade e com que convivi muitos anos, o Pepe Mujica é a pessoa mais extraordinária que eu conheci”.
Mujica agradeceu com humildade: “Recebo essa medalha em nome do meu povo. Fiz o que podia pelo meu povo. E nada mais. Esse é um amigo de muitos anos. Obrigada pela sua vida, Lula”.
*em atualização