NASA chama a atenção para a seca do Solimões e queimadas

Seca no Norte do Brasil e queimadas chamam a atenção em fotos de satélite

18/10/2024 21:00

Registro do Rio Solimões feito em setembro deste ano por satélite da NASA – Earth Observatory/NASA
Registro do Rio Solimões feito em setembro deste ano por satélite da NASA – Earth Observatory/NASA

Em um ano que ficará marcado pela seca histórica no Norte do Brasil e queimadas em diferentes regiões, o satélite Operational Land Imager-2 (OLI-2), da NASA, capturou uma cena inquietante: o Rio Solimões, nas proximidades de Tabatinga, no oeste do Amazonas, encolheu o seu leito dramaticamente, deixando visível o impacto das intempéries climáticas registradas ao longo de 2024. 

As imagens divulgadas pela NASA na última terça-feira, 15, revelam como a cidade, localizada na tríplice fronteira com Peru e Colômbia, testemunha a transformação ambiental cada vez mais impactante para a região da Bacia Amazônica, onde os principais rios da região atingiram níveis historicamente baixos, até mesmo para o período de seca.

No início deste mês, o Rio Negro alcançou sua menor marca em mais de 120 anos de monitoramento, registrando impressionantes 12,66 metros. Além disso, os altímetros dos satélites da NASA confirmam essa tendência de escassez de água, apontando níveis anormalmente baixos em vários lagos e reservatórios brasileiros, como o Lago Mamori, no Amazonas.

O que causa as secas e as queimadas no Norte do Brasil? 

70% de área queimada no Brasil, em 2024, foi de vegetação nativa – Earth Observatory/NASA
70% de área queimada no Brasil, em 2024, foi de vegetação nativa – Earth Observatory/NASA

O fenômeno climático El Niño, causado pelo aquecimento anormal das águas do Pacífico equatorial, foi um dos principais responsáveis por agravar a seca na região.

Embora seus efeitos tenham começado em 2023 e terminado em junho deste ano, sua intensidade, de moderada a forte, deixou uma marca profunda: o norte do Brasil enfrentou secas cada vez mais severas, enquanto o sul foi surpreendido por chuvas acima da média.

Além disso, uma área de aquecimento no Atlântico Norte pode ter influenciado a precipitação, exacerbando a crise hídrica. O projeto SERVIR, fruto de uma parceria entre a USAID e a NASA, revelou que o oeste do Amazonas, norte do Peru, leste da Colômbia e sul da Venezuela tiveram uma queda de 160 milímetros de chuva no meio do ano.

Este déficit hídrico alertou os cientistas para o risco iminente de uma seca severa, somada ao aumento das condições propícias para incêndios florestais. Os alertas se concretizaram: o Serviço de Monitoramento da Atmosfera Copernicus (CAMS), da União Europeia, apontou que a Amazônia e o Pantanal enfrentam as piores queimadas das últimas duas décadas. A combinação de chuvas escassas e solos secos criou o ambiente perfeito para a propagação dos incêndios, que rapidamente se espalharam pela América do Sul.

Em comunicado, Doug Morton, cientista da NASA, alertou para o sinal de seca que o mapa GRACE revela em toda a região, especialmente no Peru, Colômbia, Venezuela e no oeste do Brasil — áreas que abrigam muitos dos rios que agora sofrem com a escassez na Amazônia central.

Impactos da seca

O Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (CEMADEN) já classifica a atual seca como a mais severa e extensa da história do Brasil.

Segundo especialistas, os impactos das mudanças climáticas são profundos: a agricultura está comprometida, a saúde da população sofre, e as redes de transporte e geração de energia hidrelétrica enfrentam grandes dificuldades em várias partes do Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela.

Em meio à crise ambiental, o Governo Federal avaliou nos últimos meses a possiblidade de retomar o horário de verão, visando a necessidade de poupar energia e as atividades das mais de 1,5 mil hidrelétricas de pequeno, médio e grande porte distribuídas Brasil afora. 

As autoridades, no entanto, rejeitaram na última quarta-feira, 16, a possibilidade de retomar a medida.