Campanha mostra reação de quem tem doação rejeitada
Vídeo feito para ONG traz câmera escondida para alertar sobre homofobia em legislação sobre coleta de sangue
Como você se sentiria se tivesse uma doação rejeitada em uma campanha do agasalho? Mesmo com as roupas limpas e dobradas, todas em bom estado? Possivelmente, sua reação seria semelhante à de uma das pessoas que aparecem no vídeo abaixo.
https://www.youtube.com/watch?v=q9IhSmfJ1Hw&feature=youtu.be
O filme traça um paralelo com quem tenta doar sangue, mas tem sua oferta recusada. É o caso de homens homossexuais.
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Catraca Livre criou o projeto Causando, apoiado pelo Carrefour, para mostrar como as marcas desenvolvem e assumem causas.
A portaria n° 158 do Ministério da Saúde, de 4 de fevereiro de 2016, torna inaptos “homens que tiveram relações sexuais com outros homens e/ou as parceiras sexuais destes”.
Elaborado pela agência Mirum para o Grupo Dignidade, ONG LGBTI+, o vídeo foi gravado com câmeras escondidas. Um ator se passou por voluntário de uma campanha do agasalho.
Ele recebia quem entrasse com sacolas cheias de casacos e cobertores.
Mas, a cada tentativa de doação, a pessoa ouvia recusas. Todas por motivos sem sentido, como o de que a peça estaria fora de moda.
Assim que a pessoa se sentia ofendida, o ator entregava um folheto da campanha com a mensagem: “Achou revoltante uma boa ação ser rejeitada? É isso que acontece com todo homossexual que tenta doar sangue. Assine a petição e ajude a tornar o processo de doação de sangue mais igualitário, com triagens sem preconceito”.
Doação no Judiciário
O objetivo da ONG é conscientizar e convidar as pessoas a assinarem a petição “Igualdade na Veia”. Com 22 mil assinaturas até esta quinta, ela propõe mudanças na doação de sangue no país.
De acordo com a organização, a restrição impede que 10,5 milhões de homens brasileiros que se dizem homo ou bissexuais façam doações. Isso significaria 18,9 milhões de litros de sangue por ano, levando em consideração que uma pessoa do sexo masculino pode doar até quatro vezes em 12 meses.
Uma ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade), protocolada em 2016, questiona a portaria, argumentando haver preconceito no texto.
Ainda que a pessoa tenha relações com um único parceiro e protegida por preservativo, ela está inapta por lei a doar sangue. Ou seja, “mesmo não falando sobre a orientação sexual propriamente dita, [a portaria] abre brecha para interpretações homofóbicas de quem faz a coleta do sangue”, segundo o texto da petição online.
Todo sangue recebido no país é testado para averiguar qualquer tipo de contaminação.
Sangue no mundo
Na Inglaterra e na Escócia, o tempo de espera entre a última relação e a doação é de três meses. Até 2017, esse prazo de doação para homens que haviam feito sexo com outros homens era de 12 meses.
No Canadá, essa janela também passou de 12 para 3 meses, neste ano.
Assim como o Brasil, os Estados Unidos adotam a política de intervalo de 12 meses.
A Espanha e a Argentina são dois países que avaliam comportamento de risco para doação. Mas não há impedimento específico para um homem que tenha feito sexo com outro homem.
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