Chef se inspira na Amazônia após visitar comunidades da floresta

Na contra-mão da turma, Carol Helena decidiu que preferiria ter um restaurante a cursar uma universidade. Para isso, passou por todas as áreas desse tipo de empreendimento. Só que quando ela entrou na cozinha, se apaixonou e dali não saiu mais.

Para aprender um pouco mais sobre o preparo dos alimentos com grandes chefs, foi garçonete de lugares bacanas e depois de um tempo, quando se cansou da ostentação gourmet de pratos feitos a partir das receitas da vovó, resolveu viajar.

“Eu entrei no mercado Ver-o-peso e pensei na hora que estava no sudoeste asiático. Aquele rio com água branca, o caboclo com traços orientais, rosto redondo e pele escura, me fizeram se sentir em um documentário da National Geographic”, conta.

Helena estava em Belém do Pará, no norte do país, na maior feira ao ar livre da América Latina, em busca de conhecer muito mais além do tucupi, o jambu e o açaí, que, segundo ela, é o bê-a-bá da cozinha típica paraense.

“Fui originalmente buscar ingredientes, mas ali naquele lugar, que é o interposto entre o rio, a floresta e a cidade, percebi que muita coisa era impossível de ser levada para São Paulo.”

Por isso, mudou os planos e ampliou a viagem por mais alguns meses. De 2010 a 2012, fez oito viagens entre o Pará e São Paulo para visitar comunidades ribeirinhas localizadas em lugares como a  Costa do Salgado, Ilha do Marajó, Arari, entre outros.

“Até no Alto do Xingu, que já tinha a hidrelétrica, e uma parte do Tocantins, que está bastante desvatada, eu cheguei. Eu queria conhecer a cozinha tradicional da floresta, da mesa do caboclo, e foi dessa experiência que nasceu a identidade do meu próprio restaurante”, conta.

Em Alter do Chão, cidadezinha turística às margens do rio Tapajós, Helena abriu, em 2014, o “Cozinha da Floresta”, onde prepara pratos com 100% de ingredientes da floresta e não utilizada quase nada industrializado.

“Eu ainda não consegui me livrar do sal e nem do açúcar, mas uso óleo de patauá no lugar do azeite, jerimum, um tipo de abóbora doce, para fazer nhoque, e a macaxeira para fazer massa, por exemplo”, conta.

“O trabalho de criação em cima dessa pesquisa que eu fiz durante as viagens é para mim a ‘Nova Cozinha Amazônica’, que tem foco para o ecológico, o justo e a preservação da floresta.”

A chef compra a maioria dos elementos que utiliza dos produtores artesanais e conta que muitos ingredientes se perderam por conta da devastação contínua realizada pelas madeireiras, que abrem espaço para as plantações de soja.

“Atualmente falta interesse do caboclo em extrair certos alimentos porque é mais fácil comprar no comércio. A abacaba, por exemplo, é uma fruta opcional ao açaí no inverno. Mas como é mais sensível e deve ser manuseada artesanalmente, não é considerada mais atrativa.”

Além de continuar com as criações no restaurante, que fizeram sucesso entre o público durante o verão paraense, Helena pretende lançar uma coleção de livros com as receitas tradicionais e as histórias das viagens pela Amazônia.