Após muito preconceito, ex-faxineira se forma aos 51 anos
Esta ex-faxineira se formou em educação física na Ufac (Universidade Federal do Acre) aos 51 anos, após vencer o machismo do marido e do pai e a discriminação em sala de aula. A formatura de Vera Lúcia aconteceu no último dia 3, em Rio Branco.
“Meu sonho era chegar na universidade federal”, diz a formanda, cujo marido era contra seus estudos. Seus três filhos, porém, foram fundamentais para a conquista e estavam na plateia da formatura, de acordo com informações do site G1.
Natural de Campo Grande (MS), ela atuou como doméstica e diarista e teve de interromper seus estudos no quarto ano do ensino fundamental para ajudar na renda de casa. Ficou sem voltar à escola por cinco anos. “Naquele tempo a educação era muito machista. Meu pai não dava valor aos estudos, achava que mulher não tinha que se preocupar com isso”, conta.
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Com 21 anos, ela finalmente chegou à oitava série. Foi quando conheceu um acreano, com que se casou. Novamente, deixou de lado os estudos. “Quando casei, meu marido era muito machista e não queria que eu estudasse”, diz. “Logo depois eu engravidei e tive minha primeira filha.”
Depois, vieram os dois meninos. O sonho de ir à universidade ficava cada vez mais forte, mas também mais distante. Mas, quando sua filha mais velha completou oito anos, Vera Lúcia ainda morava em Campo Grande e foi informada de que deveria voltar a estudar se quisesse tentar uma bolsa-auxílio do governo. “Voltei a estudar na oitava série com 30 anos, 16 anos depois de ter parado.”
Mais preconceito
Ela e a filha iam juntas para a aula. “Foi a maneira que achei para que meu marido me deixasse estudar”, diz Vera Lúcia, acrescentando que os desentendimentos nunca deixaram de existir. “Fui superando as brigas e terminei o ensino médio”, lembra ela, que finalizou essa etapa já morando em Rio Branco. “Logo depois comecei a tentar passar na Ufac. Foram três tentativas, até que, em 2010, no último vestibular antes da implantação do Enem, passei.”
Sua primeira opção era nutrição, mas ficou satisfeita com a aprovação em educação física. Nessa época, ela trabalhava na casa de uma família ganhando R$ 200. Então, pediu as contas e se dedicou à faculdade. A filha mais velha a ajudava a pagar o transporte público até o campus.
A ex-faxineira afirma que sofreu preconceito ao entrar na graduação, devido à sua idade e à condição financeira –além de continuar sendo vítima do machismo dentro de casa.
Em 2016, seu marido adoeceu e morreu. Como precisava fazer a monografia, os professores de Vera Lúcia a ajudaram a conseguir bolsas de estágio que a ajudaram financeiramente. Então, ela finalmente se formou.
“Foi uma emoção muito grande. Se eu viver mil anos, vou agradecer a Deus mil anos pelo sonho que consegui realizar”, diz. Agora, ela pretende passar em um concurso e iniciar a pós-graduação.
Leia a reportagem completa no G1