Pesquisa investiga efeito de 725 fármacos sobre o vírus zika

Em busca de novas armas para combater a infecção pelo vírus zika, um grupo de pesquisadores brasileiros e franceses testou a eficácia de 725 medicamentos já aprovados para uso humano, com variadas indicações.

Cinco fármacos foram selecionados como os mais promissores –com destaque para o antiemético palonosetron. Os resultados da pesquisa, apoiada pela Fapesp, foram divulgados na plataforma on-line “F1000Research”.

Representação da superfície do vírus Zika

Essa estratégia conhecida como reposicionamento de fármacos já vem sendo empregada há alguns anos pelo grupo liderado por Lucio Freitas Junior, do Instituto Butantan, na busca de terapias para doenças tropicais negligenciadas.

O trabalho mais recente foi desenvolvido durante o pós-doutorado de Bruno dos Santos Pascoalino, bolsista da FAPESP, e contou com a colaboração de Gilles Courtemanche, atualmente diretor do Bioaster Technology Research Institute e ex-colaborador do laboratório francês Sanofi.

O grupo usou uma tecnologia conhecida como High Content Screening (HCS – Triagem de Alto Conteúdo) para testar quais dos 725 medicamentos aprovados pela FDA (a agência que regula medicamentos nos Estados Unidos) eram mais eficazes em barrar a infecção de células humanas pelo vírus zika. Nos testes, foi usada uma linhagem viral isolada em Recife (PE), durante a epidemia de 2015.

Como modelo, foram usadas culturas de hepatócitos (células do fígado) humanos, semelhantes às empregadas nos estudos voltados a encontrar novas drogas contra hepatite C –doença causada por um vírus pertencente ao mesmo gênero do zika, o flavivírus.

O potencial antiviral dos fármacos foi comparado ao do interferon α 2A (IFNα2A), proteína humana produzida por células do sistema imune que apresenta alta atividade in vitro contra diversos vírus, inclusive o zika.

Ao todo, de acordo com o pesquisador, 29 medicamentos apresentaram alguma atividade anti-zika. Mas o grupo priorizou aqueles com maior potencial para serem usados no tratamento da infecção segundo os critérios usados na indústria farmacêutica.

Entre os selecionados estão a lovastatina, usada no tratamento de hipercolesterolemia; o quimioterápico 5-Fluorouracil, adotado contra diversos tipos de câncer; o 6-Azauridine, antimetabólito capaz de inibir a replicação do RNA viral; a kitasamicina, um antibiótico da classe dos macrolídeos e que possui amplo espectro de atividade antibacteriana; e o palonosetron, um antagonista de receptor de serotonina usado no tratamento de náusea induzida por quimioterapia.

Segundo Freitas Junior, o palonosetron também já foi usado para tratar o enjoo associado à gravidez, porém ainda não há estudos conclusivos para atestar sua segurança.

Segundo o pesquisador, o grupo já está trabalhando com colaboradores do Brasil e do exterior para criar variações das moléculas selecionadas.

Com informações da Agência Fapesp