A Dama do Teatro Sérgio Cardoso

O Catraca Livre foi até a casa de Nydia Licia – que foi esposa do ator Sérgio Cardoso – para saber um pouco mais sobre a história dela. A atriz protagonizou a primeira peça apresentada no espaço, que será reaberto no início de setembro

29/08/2011 16:32 / Atualizado em 04/05/2020 10:48

A noite fria do mês de maio de 1956 marcava a estreia de “Hamlet”, no então Teatro Bela Vista – hoje, Sérgio Cardoso, em homenagem ao ator morto na década de 1970. Nydia Licia, 85, era a rainha que trajava os típicos vestidos ingleses do século 16.

“Estava com um decote enorme nas costas e o cimento do teatro [recém reformado] ainda parecia úmido. Fizemos a peça com uma sensação de vitória. Foi uma noite de gala, realmente”, comenta a atriz. Ali começava a história do espaço que, em 2010, fechou para reformas, mas tem data marcada para reinauguração: 9 se setembro, com a peça “Ensina-me a Viver”, protagonizada por Glória Menezes. A entrada custa R$ 15 para estudantes. Em breve, o Catraca Livre trará mais informações. Aguarde.

Nydia era a esposa de Sérgio Cardoso e, ao lado dele, teve a ousada ideia de ter um teatro. O casal descobriu em 1954 um espaço ali pela região da Bela Vista, numa madrugada em que voltavam de um ensaio. Viram atrás de um tapume de madeira uma construção parecida com um teatro.

“Aquele era o espaço que sempre sonhamos. Alugamos o teatro sem mesmo ter como pagar”, recorda-se. São Paulo passou a ter então mais um local para a dramaturgia, ao lado de unidades como Teatro Arena e Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Com o tempo, conseguiram parecerias e, do dia da estreia em diante, passaram pelo palco peças como “O Comício”, “Chá de Simpatia”, “Esta Noite Falamos de Medo”, “A Estrela do Lar”, “O Auto da Compadecida” entre outras.

Imagens: Brunno Marchetti

Mas a história de Nydia começa muito antes da interpretação de Hamlet. Ela nasceu no sul da Itália e, desde muito pequena, acompanhava os passos dos pais que, cada qual com sua profissão, estavam ligados à arte. A mãe, professora de canto, treinava artistas de ópera. O pai, médico, cuidava da voz deles – em caso de enfermidades. “O mundo da arte sempre foi natural para mim. Eu vivia no palco”, afirma. Aos 16 anos – e já morando no Brasil – a artista já tinha formação para cantora de ópera.

Embora tivesse se preparado durante a vida para ser cantora de ópera, recebeu seu primeiro convite para trabalhar como atriz amadora no final da década de 1940. Trabalhava como assistente no Museu de Arte de São Paulo (Masp)  -à época, ainda instalado na Rua 7 de Abril. E assim, começou a traçar sua jornada de intérprete. “Este é um caminho de grandes alegrias e uma vida de sacrifício, compromisso e pontualidade. Já cheguei a representar quase sem voz”, relembra.

Atualmente, Nydia continua ligada ao campo das artes. É professora da escola de Teatro Célia Helena. Na instituição ministra aulas de preparação de voz, além de encontros sobre entendimento de texto teatral. Só vai a peças de teatro quando considera que vale a pena. “A peça tem que ter um bom texto. Do contrário não vale a pena”.