Aos 87 anos, Monarco celebra a vida e se prepara para live

22/08/2020 13:47

Por Larissa de Aquino

 

Na última segunda-feira, 17, Hildemar Diniz, popularmente conhecido como mestre Monarco, completou 87 anos de vida cheio de vigor, devoção ao Samba – gênero que o consagrou – e com planos.

Baluarte da Portela e compositor de letras indispensáveis em qualquer roda de Samba, Monarco celebrou a data em família, mas já mirando a sua primeira live, que acontece no próximo dia 31, segunda-feira, no canal de Youtube da sua escola  de coração.

O sambista promete um reencontro emocionante com o seu público seguindo o novo normal. Maria Rita é a convidada especial da celebração do portelense, que também conta com as participações ilustres de Paulinho da Viola, Zeca Pagodinho, Marisa Monte, Criolo, Martinho da Vila, Diogo Nogueira e outros convidados – por vídeo, é claro!

E, como a data se mistura com a história do próprio samba, Monarco concedeu uma entrevista afetuosa ao Samba em Rede contando um pouco dessa trajetória tão única.

 

São quase nove décadas de uma história vitoriosa. Imaginava celebrar seu aniversário vivendo um momento parecido ao que vivemos hoje?

Eu costumava a comemorar com a casa cheia, às vezes na Portela. Esse aniversário foi legal, mas foi ruim não poder abraçar minhas netas, falar de longe com as pessoas que vieram me cumprimentar e fazer tudo de máscara. Tira um pouco do brilho, mas vale o coração.

 

Como está a sua expectativa para a live?

Eu estou preparado, repassando os tons, começando a me exercitar, para fazer tudo bem direitinho e caprichado. O público já está numa expectativa boa: vão ser mais de 20 músicas no repertório e eu vou estar muito bem acompanhado por pessoas que prestigiam os meus projetos. É muito bom ser querido.

 

Você recebeu a indicação ao Grammy com o álbum “De todos os tempos”, que teve a direção do seu filho Mauro Diniz, que também dirige a live. Como é ser dirigido pelo filho?

Em todas as coisas que faço, eu não abro mão que seja o Mauro Diniz assinando a produção musical. Ele conhece muito bem meu repertório e fazemos um bom trabalho juntos: já estou acostumado e prefiro que seja ele conduzindo as coisas.

 

Quando Hildemar Diniz se tornou Monarco?

Isso foi em Nova Iguaçu: eu tinha uns nove anos, um rapaz estava lendo uma revista em quadrinhos sobre mágicos e ele pronunciou “Monaco”, sem o “R”. Quando ele falou essa palavra, achei engraçado e gargalhei, e ele logo me chamou de “Monaco”; meus amigos que estavam próximos começaram a me chamar também e o apelido logo pegou. Mais tarde, em Oswaldo Cruz, não me recordo quem me chamou incluindo o “R” e todo mundo começou a me chamar assim e o “Monaco” dançou.

 

Qual foi a importância da sua entrada para a Ala de Compositores da Portela?

Eu entrei porque eu fiz um samba bonito, eles gostaram e me promoveram. Antes, eu saía na bateria, em outras alas e, quando fiz “O Passado da Portela”, não demorou para que o samba pegasse no terreiro, que era como a gente chamava naquela época, e as pastoras gostaram.  Ainda não tinha a Ala de Compositores oficial; e, em 1955, quando ela surgiu, eu comecei a fazer parte também. E tive a honra de ser parceiro de Manaceia, Alcides, Alvaiade e outros grandes nomes da escola e por aí fui caminhando.

 

Você tem algumas músicas falando sobre futebol e é torcedor do América; tem algum ídolo nos campos?

O América agora tá fraquinho, mas naquela época tinha grandes jogadores. Um ídolo meu foi o Danilo, Príncipe Danilo, e tinha o Maneco, Saci do Irajá, que jogava muito. Depois de algum tempo, recebi um convite e aproveitei e fiz um samba que entrou no disco “Sou louco por ti América” em que pude homenagear meu time do coração.

 

Sua carreira como compositor é muito prestigiada. Qual foi a emoção da primeira vez que um artista gravou uma música sua?

Tive grandes emoções em relação às minhas músicas. A primeira, de 1952, com “O Passado da Portela”, foi uma grande emoção quando o samba, que até então era um sucesso no terreiro, passou a ser o “esquenta” da escola antes do desfile na Presidente Vargas. Outro momento que também foi emocionante foi quando o Martinho da Vila gravou “Tudo Menos Amor” e a música foi um sucesso nacional!

A partir daí, abriu-se um espaço para mim no cenário artístico. Depois dela (“Tudo Menos Amor”), os artistas começaram a me procurar, deixei de levar chá de cadeira nas gravadoras e passei a entrar pela porta da frente.

 

Qual parceiro você destaca na carreira?

O Ratinho compôs comigo grandes sucessos como “Coração em Desalinho” e “Vai Vadiar”: nossa parceria funcionou bem. E, depois que ele partiu, passei a compor muito com o Mauro Diniz tanto que já fizemos algumas músicas juntos. Quando alguém me procura e me dá uma “primeirinha”, aí já está meu parceiro.

 

É difícil te ver por aí sem sua companheira, a Olinda. Qual é a importância dela na sua vida?

A Olinda é minha guia! Para tudo que eu faço é ela que me apoia e me dá força: são 26 anos juntos e, quando tenho alguma dúvida ou qualquer insegurança, sei que ela vai me aconselhar e querer o melhor para mim. É minha companheira de vida.

 

Tem algum momento da sua carreira que você gostaria de reviver?

Tudo que eu fiz eu gostaria de fazer de novo porque fiz com o coração e muita dedicação. Coleciono momentos inesquecíveis da minha carreira com a certeza de que viveria novamente. Claro que alguns prêmios são especiais, indicações ao Grammy: eu me sinto muito vitorioso, de verdade. E sabe? Eu sou um homem muito feliz.

 

Com uma história tão linda e vitoriosa, tem algum sonho que você ainda deseja realizar?

Compor é sempre o meu projeto! Eu já realizei muitos sonhos, mas fazer música, fazer samba é uma espécie de sonho. Eu estou muito feliz com o que Deus me deu, mas ver a Portela ganhar um carnaval, sozinha, também é bom demais.