Dona Guga, a dama dos 70 carnavais

Aos 73 de idade, Dona Guga é um exemplo de liderança feminina da S.C. Morro da Casa Verde

16/03/2018 00:00 / Atualizado em 09/05/2019 15:38

Em 2018, Laurinete Nazaré da Silva Campos, de 73 anos, mais conhecida como Dona Guga, completou seu 70º ano de Carnaval. Considerada uma verdadeira matriarca do samba de São Paulo, Dona Guga é uma das poucas mulheres que estão no comando de uma escola de samba e, como a maioria delas, teve de superar muitos obstáculos para ser reconhecida e respeitada.

A baluarte desfilou pela primeira vez quando tinha apenas dois anos de idade na extinta Ritmo do Morro, escola que mais tarde se tornaria a Unidos do Peruche. Foi primeira rainha de bateria mirim do capital paulista, ritmista e atuou em diversas funções até assumir a presidência da Sociedade Carnavalesca Morro da Casa Verde, em 1985.

Acervo livro "Mães do Samba, Tias Baianas ou Tias Quituteiras"
Dona Guga participou da fundação da Sociedade Carnavalesca Morro da Casa Verde em 1962

Guga nasceu no dia 12 de junho de 1946, no bairro da Casa Verde, localizado na zona norte de São Paulo. Filha do fundador do Morro da Casa Verde, Seu José de Nazaré ou Zezinho do Banjo, a menina cresceu cercada pelo universo das escolas de samba e acostumou-se a ajudar na confecção de instrumentos e fantasias.

Fundada no dia 6 de abril de 1962, a Sociedade Carnavalesca Morro da Casa Verde surge a partir de uma dissidência da Escola Unidos da Casa Verde, extinguida em 1963. O nome da escola deve-se ao fato de, na época da fundação, no local onde ela nasceu, havia uma ponte de madeira e ao chegar na ponte, só existia uma casinha de cor verde no alto do morro. Da mesma origem é a ideia do emblema da escola.

A escola foi considerada uma das mais fortes à época e dela participaram vários sambistas que cravaram seus nomes em nosso imaginário. São eles: Zeca da Casa Verde, Geraldo Filme, Fernando Bom Cabelo, Talismã, Nelson De La Rosa, Sílvio Modesto, Toniquinho Batuqueiro e tantos outros.

Com a oficialização do Carnaval de São Paulo, em 1968, a produção dos desfiles atingiu custos altíssimos e algumas escolas de samba entraram em crise. Foi o caso do Morro da Casa Verde, que se manteve até 1970 entre o primeiro e o segundo grupos; mas com o falecimento de Zezinho do Banjo, a agremiação entrou em declínio.

Apesar das dificuldades estruturais e financeiras, Dona Guga jamais desistiu de resgatar a autoestima do pavilhão. Após um período de reestruturação, a escola chegou ao Grupo Especial com o vice-campeonato no Grupo 1 da UESP do ano de 1999 e lá permaneceu até 2002. Em 2018, a verde e rosa da zona norte emplacou o 3º lugar no Grupo de Acesso 2 da Liga Independente das Escolas de Samba com o enredo “A Luta de Um Povo, a Força de Uma Raça…Luiza Mahin, a Luz de Daomé”.

Dona Guga e Alberto Ferreira, o Paulistinha, da Barroca Zona Sul, foram condercorados como Cidadã e Cidadão Samba pela UESP em 2017
Dona Guga e Alberto Ferreira, o Paulistinha, da Barroca Zona Sul, foram condercorados como Cidadã e Cidadão Samba pela UESP em 2017

Passados 56 anos desde sua fundação, Dona Guga – hoje no cargo de Presidente de Honra e da Velha Guarda da do Morro da Casa Verde – acompanhou de perto o processo de criação e evolução da agremiação, mantendo sempre a originalidade e o comprometimento que a destaca no mundo do samba até hoje.

Condecorada Cidadã Samba de 2017 pela União das Escolas de Samba de São Paulo (UESP), e agraciada com o Prêmio Theodosina Ribeiro pela luta contra a discriminação racial e a defesa dos direitos das mulheres, Dona Guga consagra-se como uma grande baluarte da capital paulista, e claramente uma mulher a quem devemos todo o nosso respeito.

  • Para celebrar o Mês da Mulher, o Samba em Rede presta homenagens diárias a personagens do gênero feminino que nos inspiram. Saiba mais sobre a campanha e leia outros perfis aqui.