É bom no samba, é bom no couro

30/03/2017 00:00 / Atualizado em 09/05/2019 15:38

Por Rodolfo Gomes

Quem é que não se lembra do brado ufanista, motivado pela conjuntura política e fomentado pela conquista da seleção de 1970? Mais do que este momento pontual, a frase revela a relação íntima entre o samba e o futebol, duas paixões nacionais tão distorcidas nos dias atuais.

Janeiro de 1996. No bairro de Jacarepaguá, Rio, um atropelamento, uma vítima fatal e um motorista em fuga sem prestar socorro. Fato usual nas grandes cidades brasileira vitimava, desta vez, um grande sambista, compositor e intérprete: Roberto Ribeiro.

Roberto Ribeiro
Roberto Ribeiro

Apaixonado por futebol, foi goleiro profissional pelo Goytacazes F. C. em sua cidade natal e chegou treinar no Fluminense, mudando-se para o Rio em 1965. Mas foi a partir de 1971, defendendo sambas pelo Império Serrano, que ganhou destaque no universo artístico.

Cantar Roberto Ribeiro é homenagear Dona Ivone Lara, Délcio Carvalho, Wilson Moreira, Nei Lopes, Monarco, Xangô, Nelson Rufino, Silas de Oliveira, Aniceto do Império. É uma homenagem ao samba, jongo, ijexá, afoxé, tantos ritmos e influências que jamais poderiam caber em um parágrafo.

Outro craque dessa seleção do samba, de que não podemos nos esquecer, tanto pela ocasião de seu falecimento, há exatos cinco anos (30/03/12), quanto pela sua importância no samba baiano, foi Ederaldo Gentil. É dito que o meia-esquerda do Esporte Clube Guarany, que teve ainda uma breve passagem pelo Vitória, poderia facilmente seguir a carreira de atleta. Mas o chamado do samba foi mais forte.

Ederaldo Gentil em 1975, época  do “Samba, canto livre de um povo”
Ederaldo Gentil em 1975, época  do “Samba, canto livre de um povo”

Ederaldo nasceu no centro da velha Salvador e ganhou destaque no bairro do Tororó, para onde se mudou na adolescência, integrando a ala de compositores da Escola de Samba Filhos de Tororó. Compositor de sucesso, conta-se que Gentil resolveu afastar-se de sua escola em 1969, sendo prontamente assediado pelas demais. Deste modo, em 1970, à excessão dos Filhos de Tororó, todas as outras nove escolas de samba desfilaram com um enredo de sua autoria.

Os tempos mudaram, e para além da relação íntima entre o samba e o futebol, o campo político parece lembrar os velhos tempos.