Eduardo Gudin e os obstáculos de mercado

27/09/2016 00:00 / Atualizado em 09/05/2019 15:38

“Não me sinto frustrado, fiz muitas outras coisas”, reflete Eduardo Gudin
“Não me sinto frustrado, fiz muitas outras coisas”, reflete Eduardo Gudin

O nome do compositor e cantor Eduardo Gudin costuma ser associado pelo grande público ao de Paulo César Pinheiro pela parceria antológica que já dura décadas. Muitos não sabem que ele é um dos músicos brasileiros mais produtivos e influentes das últimas décadas.

Sua extensa lista de serviços prestados à música brasileira inclui mais de 200 composições, cerca de 20 discos, além de inúmeros parceiros que gravou e intérpretes que incentivou e descobriu. Como produtor, criou e dirigiu o 1º Festival Universitário da TV Cultura, que revelou, por exemplo, Arrigo Barnabé – um dos principais nomes do movimento Vanguarda Paulista.

Mesmo lembrado como uma grande divulgador da música, os obstáculos impostos pelo mercado acabaram por restringir o alcance de seu trabalho como compositor. “Você pode fazer sucesso ou não. Não tem muita explicação”, afirma Gudin em entrevista exclusiva concedida ao Samba em Rede.

Painel de Eduardo Gudin na mostra “Os Trabalhadores e os 100 Anos do Samba”, em 2016
Painel de Eduardo Gudin na mostra “Os Trabalhadores e os 100 Anos do Samba”, em 2016

Para Eduardo, tudo é uma questão de estar no lugar certo e na hora certa. “Lembro que em 1985, eu não queria entrar no festival. Tudo aconteceu por conta da insistência de um amigo”, recorda Gudin sobre o momento que compôs “Verde”, canção assinada com J. C. Costa Netto e defendida por Leila Pinheiro no Festival dos Festivais.

Gudin conta que se acostumou a enfrentar desafios ao longo de sua experiência musical, especialmente pela oposição da televisão e das rádios em torno da promoção de sua obra. “Não me sinto frustrado. Talvez se minha carreira tivesse sido mais fácil, eu não teria estudado o que eu estudei, feito o que fiz.”

Além de atuar como articulador cultural e produzir gravações como “Beth Carvalho canta o Samba de São Paulo”, Eduardo Gudin também se dedicou aos estudos de orquestração. Em 2001, gravou o álbum “Luzes da Mesma Luz”, com Fátima Guedes, e compôs arranjos para grande orquestra. Ao todo, foram utilizados 20 instrumentos de cordas, incluindo violinos, violas e violoncelos, e nove de sopro, como clarone, trompetes, trompa, trombone, clarineta, flautas e saxofones.

A facilidade de transitar por diversas habilidades dentro da música, assim como a técnica apurada sempre posta a serviço da emoção, fazem de Eduardo Gudin um pilar dentro da música brasileira responsável por seguir inspirando muita gente até os dias de hoje.

Passados 50 anos de carreira, o compositor diverte-se ao lembrar de suas escolhas: “Não dá pra ficar supondo como as coisas poderiam ter sido. O importante é que ‘nois’ é diferente deles.”