A parceria de Eduardo Gudin e Paulo César Pinheiro
O compositor paulistano recorda o momento em que conheceu um de seus maiores parceiros
No início da década de 1960, muitos músicos brasileiros devem ter sentido ao menos um pouco de inveja do violonista e compositor Eduardo Gudin. O jovem de apenas 16 anos firmou com Paulo César Pinheiro, uma das maiores parcerias da música brasileira. “O Paulinho é o cara mais prodígio que eu já conheci”, elogia Gudin em entrevista exclusiva concedida ao Samba em Rede.
Foi admirando as canções e a musicalidade de Baden Powell que o compositor paulistano entrou em contato com o trabalho de Paulo César Pinheiro: “O grande parceiro do Baden sempre foi o Vinícius de Moraes e de repente veio um menino da minha idade fazendo músicas como ‘Samba do Perdão’ e ‘Lapinha’. Eu comecei a criar uma grande admiração pelo trabalho dele”.
Motivado pelo talento e originalidade de Paulo César Pinheiro, à época com apenas 18 anos, Gudin reforça: “A minha geração tinha muita influência do Chico Buarque e que não era o caso dele. O Paulo tinha um estilo bem original. Isso me fascinou”.
- ‘Ainda Estou Aqui’: saiba onde ver o filme em São Paulo pagando mais barato
- 3ª edição da FLID – Feira Literária de Diadema homenageia autores locais e ícone da literatura negra
- Teatro Bravos recebe show de lançamento do projeto autoral para as Infâncias
- Big Band Salada Mista se apresenta no Teatro Santos Dumont nesta quinta
Eduardo conta sobre quando e como conheceu Paulo: “Ele estava parado do lado de fora e eu fui me apresentar como compositor”. O encontro se deu na porta de um restaurante localizado rua Augusta, em São Paulo, muito frequentado por músicos da bossa nova e representantes da classe artística emergente da década de 1960.
A ligação dos dois só se consolidou quando a cantora Márcia – amiga em comum – enviou a melodia de “Olha Quem Chega”, composta por Gudin, para Pinheiro. “Nunca esperei uma resposta. Depois de uns seis meses ele me ligou com a letra. Foi assim que começou”, recorda. “Olha Quem Chega” foi o primeiro samba composto pela dupla, mais tarde gravado por Elizeth Cardoso e, recentemente, deu nome ao novo CD de Dona Inah.
Difícil mesmo é não deixar de questionar sobre a afinidade de estilo e as maduras composições da dupla. “No início me intimidei, confesso. Mas de vez em quando eu fazia uns pedaços, e o Paulo pegava e terminava um refrão aqui, outro ali”, revela Gudin quando perguntado sobre o processo de criação conjunta. “Além de uma parceria profissional, nós construímos uma grande amizade; acho que assim o processo foi ficando mais fácil.”
Entre os anos de 1974 e 1976, a fértil parceria resultou no show “O importante é que nossa emoção sobreviva”, apresentado no Teatro Oficina, em São Paulo, com as canções interpretadas pela cantora Márcia. O espetáculo gerou dois LPs que foram lançados pela gravadora Odeon. O repertório selecionado revelou obras como “Mordaça”, “Essa Conversa”, “Refém da Solidão, “Veneno” e “Velho Passarinho”.
Esse material autoral abriu uma nova fase na carreira de Gudin, que estreou aos 16 anos, em 1966, como violonista no programa O fino da bossa, apresentado por Elis Regina e Jair Rodrigues. De lá para cá, a parceria Gudin-Pinheiro soma quase cem composições conjuntas. É a verdadeira prova de que boa música pode nascer de uma essência coletiva.